Um Natal
Truman Capote
Tradução: Rita
Alves Machado e Dinis Machado
Capa: Rogério
Petinga
Difel, Lisboa
s/d
Doze horas mais tarde estava eu em casa, na cama. O
quarto estava escuro. Sook estava sentada a meu lado, oscilando na cadeira de
baloiço, um som tão calmante como as ondas do oceano. Tentei contar-lhe tudo o
que tinha acontecido, e só parei quando fiquei rouco como um cão cansado de
uivar. Ela passou os dedos pelo meu cabelo e disse: - Claro que o Pai Natal
existe. Só que ninguém consegue fazer sozinho tudo o que ele tem para fazer.
Por isso o senhor distribuiu a tarefa por todos nós. Por isso toda a gente é Pai
Natal. Eu sou. Tu és. Até o teu primo Billy Bob. Agora vai dormir. Conta as
estrelas. Pensa na coisa mais tranquila que conheças. Como a neve. Lamento que
a não tenhas podido ver. Mas agora a neve cai das estrelas. Estrelas brilhando,
neve rodopiando dentro da minha cabeça; a última coisa de que me lembrei foi da
voz calma do Senhor dizendo-me aquilo que eu tinha de fazer. E no dia seguinte
fi-lo. Fui com o Sook aos Correios e comprei um postal. Esse mesmo postal
existe hoje. Foi encontrado no cofre-forte do meu pai quando ele morreu o ano
passado. Eis o que tinha escrito:
Olá papá espero que estejas bem eu tou e tou a aprender a pedalar o meu avião
tão depressa que daqui a pouco tou no céu por isso fica de olhos abertos e sim
eu gosto muito de ti Buddy.
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