quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

QUOTIDIANOS


Há 30 anos, abria a primeira loja Continente.

Vem sempre à baila O Fogo e as Cinzas do Manuel da Fonseca, um dos inolvidáveis começos de livros da literatura portuguesa:

Antigamente o largo era o centro do mundo.

José Saramago deixa a nula apetência por centros comerciais, no romance A Caverna.

O centro comercial ocupa um espaço exagerado, no quotidiano das pessoas. 

Acabou-se a praça, o jardim ou a rua, como espaço público de convívio, de afectos.

O Jornal de Notícias perguntou ao escritor e jornalista César Príncipe o que o irritava profundamente:

Um país de grandes superfícies comerciais e de pequenas superfícies culturais.

António Lobo Antunes, numa das suas crónicas, fala dos passeios nos centros comerciais, aos domingos, depois do almoço:

Aos domingos a seguir ao almoço visto o fato de treino roxo e verde e os sapatos de ténis azuis, a Fernanda veste o fato de treino roxo e verde e os sapatos de salto alto do casamento, subo o fecho éclair até ao pescoço e ponho o fio de ouro com a amedalha por fora, a Fernanda sobe o fato de treino e põe os dois fios de oro com a medalha e o colar da madrinha por fora, tiramos o Roberto Carlos do berço, metemos-lhe o laço de cetim branco na cabeça, saímos de Alverca, apanhamos os meus sogros em Santa Iria da Azóia e passamos o domingo no Centro Comercial.

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