29 de Dezembro
de 1975
O recorte é do
Diário de Lisboa de 29 de Dezembro de 1975
Por parte da
Igreja Católica pairou, sempre, sobre a ditadura Salazar/Caetano, um manto de
silêncio, uma bênção que mais não era do que uma íntima aliança de interesses
mútuos.
Para os senhores
bispos, a PIDE nem perseguiu nem matou cidadãos portugueses.
Para os senhores
bispos, a Guerra Colonial não existiu.
Para os senhores
bispos, a perseguição a membros progressistas da Igreja, feita pelo regime, foi
uma mera invenção de gente a soldo do estrangeiro.
A este silêncio
de décadas, como facto parodoxal e escandaloso, sobreveio, nos dias seguintes
ao 25 de Abril, um palavreado imenso contra os novos ares que o país começava a
viver.
Não foram
pacíficos os novos tempos na rádio da igreja.
Em Fevereiro de
1975, o despedimento sem justa causa de 11 trabalhadores, conduziram a uma
greve que durou largos dias. A entidade patronal tentou conduzir um conflito
laboral numa questão religiosa.
No seu Canal
da Crítica, publicado do Diário de Lisboa de 13 de
Fevereiro de 1975, escrevia Mário Castrim:
Durante a greve, o Episcopado proibiu a transmissão do
terço e da missa.
Álvaro Guerra, no República de 3 de Março de 1975:
No Expresso de
3 de Dezembro de 2011, Ana Cristina Leonardo recorda:
… havia muira gente na Rua Capelo e que quando lá cheguei
me perguntaram: “Vens para a manifestação de apoio aos trabalhadores?” Respondi
que sim, ora essa, e o homem disparou: “Vais para o piquete das pedras!” E
põs-me um capacete da Lisnave na cabeça. Cheguei ao piquete das pedras (as
pedras arrumadinhas a um canto) e não conhecia ninguém. Fartei-me de esperar
pelas forças da reacção, que nunca mais chegavam para ser apedrejadas, devolvi
o capacete e disse que ia só ali. Distraí-me com um soldado que explicava aos
passantes como manejar uma arma, reparei que se fizera tarde, tinha um comboio
para apanhar e fui para casa.
Às 09,00 horas
do dia 12 de Março de 1975, com a leitura de um comunicado, os trabalhadores da Rádio
Renascença recomeçavam as emissões com uma programação própria, mas não
abandonando a luta contra o reaccionarismo da Gerência:
O reinício da
actividade da estação é antes de mais a nossa vitória. Ignoramos quais vão ser
as etapas posteriores. Para já a estação está outra vez activa ao serviço das
classes trabalhadoras e das massas populares.
Na madrugada de
7 de Novembro de 1975, por ordem superior do Conselho da Revolução, a terapia
política da bomba destruía
os emissores da Rádio Renascença na Buraca.
Perguntava-se,
então:
Que rádio sairá dos destroços?
No dia 29 de
Dezembro de 1975, por decisão do Ministério da Comunicação Social, a Rádio
Renascença voltava ao Patriarcado.
Como é do
conhecimento público, a Rádio Renascença não foi nacionalizada, o que
correspondeu à reconfirmação da posição da Igreja Católica neste órgão de
informação. Na sequência lógica dessa decisão resolveu o Governo fazer a
restituição das instalações e bens, ilegalmente ocupadas, da Rádio Renascença
em Lisboa.
Segundo um porta-voz
da Rádio Renascença a estação recomeçaria as suas emissões no
primeiro dia do Novo Ano com a transmissão, ao meio dia, da missa de Ano Novo,
celebrada pelo cardeal Patriarca de Lisboa.
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