Nocturnos
Tom Waits
Tradução,
introdução e organização do texto: João Lisboa
Colecção Rei
Lagarto nº 18
Assírio & Alvim , Lisboa, Outubro de 1989
Postal de Natal De Uma Puta Em Minneapolis
Olá Charley, estou grávida
E a viver na rua 9
Mesmo por cima de uma livraria nojenta
À beira da Euclid Avenue
Deixei de meter droga
E parei de beber Whisky
O meu homem toca trombone
E trabalha no caminho de ferro
Ele diz que gosta de mim
Ainda que o bebé não seja dele
Diz que o vai criar como a um verdadeiro filho
Ofereceu-me um anel que a mãe costumava usar
E sai comigo para dançar
Todos os sábados à noite.
E Charley, penso sempre em ti
Todas as vezes que passo numa bomba de gasolina
Por causa da brilhantina que usavas no cabelo
E ainda tenho aquele disco de Little Antony e os Imperials
Mas roubaram-me o gira-discos
O que é que se há-de fazer?...
Olha Charley, quase dei em doida
Quando o Mário foi de cana
Por isso voltei para Omaha
Para viver com os meus velhos
Mas toda a gente que eu conhecia
Ou morreu ou estava presa
Então voltei para Minneapolis
E desta vez penso que vou ficar por cá
Sabes Charley, pela primeira vez desde o acidente
Parece-me que sou feliz
Só queria ter agora todo o dinheiro
Que costumávamos gastar em droga
Comprava um parque de carros usados
E não vendia nenhum
Para usar um diferente em cada dia
A condizer com a maneira como me sentisse
Oh Charley, por amor de Deus,
Queres saber toda a verdade?
Não tenho nenhum marido
Ele não toca trombone
E preciso de dinheiro emprestado
Para pagar ao advogado
E, olha, Charley, devo sair com pena suspensa
No dia de S. Valentim.
Não tenho nenhum marido
Ele não toca trombone
E preciso de dinheiro emprestado
Para pagar ao advogado
E, olha, Charley, devo sair com pena suspensa
No dia de S. Valentim.
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