Peça museu da
casa, este é o Blaupunkt de olho verde em que ouvia o Em Órbita.
Não sei como se
poderá dizer aos jovens de hoje, eu não sei, o que foi o Em Órbita e o que representou.
Aqueles rapazes
criaram um gosto, uma cultura musical na esmagadora maioria dos que viviam enrolados na música francesa, italiana,
espanhola, portuguesa.
Passei a
conhecer Simon and Garfunkel, Mamas and Papas, Bob Dylan, Bee-Gees, Peter Paul
and Mary, Moody Blues, tanta, tanta, tanta gente.
Se disser que
graças ao Em Órbita sou uma pessoa diferente, talvez não acreditem ou não
entendam o que estou a dizer. As melhores histórias são as que vêm do nada e a
história do Em Órbita é uma grande história.
Ficam aí com o indicativo
musical do programa, o instrumental Revenge dos Kinks e uma canção divulgada,
uma das muitas, no programa: O Crispian St. Peters a cantar «The Pied Piper» e eu ainda estou a ouvir o Cândido Mota, a
melhor voz, o mais competente dos que apresentaram o Em Órbita, «um programa
feito por todos e dito por mim», as primeiras espiras a rodarem e ele
a dizer: «sigam-me que eu sou o tocador da flauta mágica».
Em memória de
Jorge Gil, relembro este texto de San Shepard de que gosto muito:
«Conheci um guitarrista que dizia «a minha
amiga rádio». Sentia um parentesco menos com a música do que com a voz da
rádio. A sua qualidade sintética. A sua voz única, distinta das vozes que a
atravessam. A sua capacidade de transmitir a ilusão de gente a grande distância.
Dormia com a rádio. Falava para a rádio. Discordava da rádio. Acreditava numa
Terra Longínqua da rádio da Rádio. Como achava que nunca encontraria esta
terra, reconciliou-se consigo mesmo a ouvir a rádio. Acreditava que tinha sido
banido da Terra da Rádio e condenado a errar eternamente pelas ondas sonoras,
ansiando por um posto mágico que o devolvesse à sua herança há muito perdida».
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