O Camarada
Cesare Pavese
Tradução:
Adelino dos Santos Rodrigues
Capa: Manuel
Dias
Editorial
Minerva, Lisboa, Maio de 1974
Nesse tempo eu pressentia que ele não se fiava muito
em mim, por mais que lhe dissesse ter lido certo jornal ou que discorresse
sobre determinados temas. Todas estas coisas me vieram à ideia ali, em Roma, de
desejei mais do que nunca tê-lo a meu lado.
Carletto exprimia-se como ele e achava que eu também
tinha a minha quota-parte de responsabilidade nos acontecimentos. Em seu
entender, era um dos muitos que de deixavam ficar de braços cruzados a ver em
que paravam as modas. Como é que os fascistas tinham procedido? De um modo
muito simples: deram-se as mãos, marchavam sobre Roma e tomaram-na. Nós também
precisávamos de formar u bloco e resistir.
- Em que estás a pensar? – perguntei-lhe. – Queres conquistar
Roma?...
Naquela tarde passeámos nas pontes até as luzes se
acenderem. De vez em quando encostávamo-nos ao parapeito e conversávamos.
Contou-me que todos os velhos estavam ainda vivos, tudo gente doutros tempos,
disposta a arriscar-se. Era certo que alguns estavam no estrangeiro, exilados,
e outros na cadeia, mas todos se mantinham firmes e não perdiam o contacto
- Os fascistas andam inquietos – disse-me – e as
prisões estão a abarrotar. Há pessoas detidas em casa, com polícia à porta. Sabes
que te digo? Nós, os novos, devíamos trabalhar junto das massas, auscultá-las e
ajudá-las. Podíamos reunir fundos, distribuir imprensa clandestina e fazer
propaganda junto das massas…
- Organizar mesmo uma greve – sugeri.
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