Mário-Henrique Leiria está bem representado na Biblioteca da Casa, veja-se a
etiqueta Mário-Henrique Livros.
Acontece que a
editora E-Primatur iniciou, em Maio de 2017, a publicação das Obras Completas
de Mário-Henrique Leiria constituída por três volumes.
O terceiro, e
último volume, foi publicado em Junho deste ano e nele constam manifestos,
textos críticos e afins, bem como cartas e postais.
A obra completa
de Mário-Henrique Leiria tem como responsável Tânia Martuscelli, crítica de
literatura e de arte, professora da Universidade do Colorado/Boulder nos
Estados Unidos.
Desconhecia que
houvesse alguém tão especializado na obra de Mário-Henrique Leiria e o quanto
isso o divertiria. Tania Martucelli tem a ideia de que conseguiu reunir todos
os textos constantes do espólio do autor.e vários outros materiais dispersos.
Mário-Henrique Leiria
não se considerava um escritor mas um tipo que escrevia umas coisas quando a
veia, aliada a um grande gin-tonic, resolve ser boa companheira.
Depois de 1951
começou a andar de um lado para o outro.
«Teve vários empregos, marinha mercante, caixeiro de
praça, operário metalúrgico, construção civil (não, não era arquitecto,
carregava tijolo), etc., pelas terras onde andou: a Europa cristã e ocidental,
o Mediterrâneo norte-africano, o Oriente Médio e até, dizem, os países
socialistas. Não ia aos Balcãs porque tinha medo, todos lhe diziam que lá os
bigodes eram enormes e as bombas estoiravam até no bolso. Um dia teve de passar
por lá. Os bigodes eram realmente grandes, mas toda a gente sabia rir. Tirou o
casaco e bebeu que se fartou. Em 1958 meteram-se-lhe ideias na cabeça e foi até
Inglaterra, para aprender coisas. Não aprendeu e voltou. Entre 1959 e 1961 foi
casado e não fez mais nada. Em 1961 foi para a América Latina donde voltou nove
anos depois. Por lá conseguiu ser, entre outras actividades menos respeitáveis,
planejador de stands para exposições, encenador de teatro e até director
literário de uma editora. Fizera progressos»
Quantos papéis,
quantos textos, quantos projectos Mário-Henrique Leiria perdeu nestas suas
novas-velhas-andanças?
Mas este é o
trabalho possível e louve-se a iniciativa.
Claro que o
autor já mandou descer mais um gin e está ainda a gargalhar porque ele sempre
foi um campeão de perder textos, e textinhos, divertia-se a escrever e a
esconder o que escrevia.
Mas repito: Quantos
papéis, quantos textos, quantos projectos Mário-Henrique Leiria perdeu por esse
mundo fora?
Nova repetição: mas
pronto! É o trabalho possível, um trabalho dignificante para a literatura
portuguesa e para esse futuro que se não ler o Mário-Henrique não sabe o que
perde e tão pouco merce ser futuro.
Acredito que
Mário-Henrique Leiria sentirá uma lágrima rebelde aflorar-lhe aos olhos, pedirá
mais um gin e agradecerá do fundo do coração.
O 1º Volume reúne
Fragmentos da Minha Vida Real, os Contos do Gin-Tonic, os Novos Conto do Gin,
Fábulas do Próximo Futuro, Contos Extraídos de Depoimentos Escritos, Contos
Inéditos e Dispersos, Casos de Direito Galático, o Mundo Inquietante de Josela,
a banda desenhada Mário e Isabel, a novela Diapasão , Teatro e Guiões.
O 2º volume é
dedicado à poesia e reúne toda a sua obra poética incluindo inéditos e textos
nunca antes compilados em livro
Comprei o 1º
volume da Obra Completa do Mário-Henrique Leiria na Feira do Livro deste ano e,
oportunamente, irei comprar os outros dois volumes. É que há um bom número de
textos escritos que não fazem parte das obras publicadas.
No programa de
Mário Gin Tónico Volta a Atacar, Mário Viegas escreve:
«Quantos textos inéditos (?), perdidos,
semi-publicados (?) não andam por aí??
Onde estão os grandes amigos deste Mário??? É urgente
reuni-los num livro. Este espectáculo e este programa aqui estão para o provar
e dar uma ajuda!»
Passaram 30 anos
sobre estas palavras.
Muito tempo?
Tempo demasiado?
Mais vale tarde
que nunca, diria a minha avó materna.
A Obra Completa
do Mário Gin-Tónico está aí, Mário Viegas.
O quanto
gostaria que esta E-Imprinatur, outras editoras, seguissem esta reunião de
obras completas de autores que deixaram um espólio que andará por aí ao abandono, por aí perdido.
Tantos e tantos
autores nessas condições e, assim de repente, lembro-me do Eduardo Guerra Carneiro.
A Obra Completa
de Mário-Henrique Leiria foi publicada
com o apoio dos leitores através de um funcionamento colectivo.
Em cada volume
pode ler-se este avisos:
«De acordo com a legislação autoral em vigor, a
E-Imptimatur tentou localizar os herdeiros de
Mário-Henrique Leiria, sem sucesso. Os representantes legais devidamente
identificados poderão entrar em contacto com a editora para se elaborar
contrato de direitos.»
De uma carta de
Mário-Henrique Leiria, Carcavelos 25 de Novembro de 1973, para Isabel, ou
Maruska, ou o grande amor da sua vida:
«Quanto ao meu livro (Novos Contos do Gin), já está em primeiras provas. Talvez
esteja na rua lá para meados de Dezembro. Achei que tinha historietas demais e
tirei um monte delas, não gosto de chatear demais os leitores.
Sabes que o Gaspar Simões botou elogio grosso aos CONTOS DO GIN-TÓNICO na página literária do "Diário de Notícias"? Pois foi: Só tenho coisas que me ralem; só me faltava o Gaspar Simões a dizer bem de mim. Ele há cada coisa!»
Sabes que o Gaspar Simões botou elogio grosso aos CONTOS DO GIN-TÓNICO na página literária do "Diário de Notícias"? Pois foi: Só tenho coisas que me ralem; só me faltava o Gaspar Simões a dizer bem de mim. Ele há cada coisa!»
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