Dali tinha-se vista para Lisboa aos nossos pés, as igrejas à luz pálida do luara, as ruas, o porto, o cais e o navio que era uma arca.
-Acredita na sobrevivência além da morte? – perguntou-me o homem dos
bilhetes.
Levantei a cabeça. Estava à espera de tudo, menos daquilo.
- Não sei – acabei por responder. – Nos últimos anos tenho andado
demasiado preocupado com a sobrevivência antes da morte. Hei-de pensar melhor
no assunto quando estiver na América – acrescentei, para lhe relembrar as
passagens que prometera para apanhar o navio.
- Eu não – afirmou.
Suspirei de alívio. Estava preparado para ouvir de tudo mas não teria aguentado uma discussão. Sentia-me demasiado inquieto. O navio estava lá em baixo.
Erich Maria Remarque
em Uma Noite em Lisboa
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