O Damião não sabe o que aconteceu ao Público onde deram início ao folhetim Unido Jamais Será de Rui Cardoso Martins. Para pôr a serradura do gato não foi, porque para esse fim utiliza os sacos do Pingo Doce.
Mas agora folheio a edição do domingo 1 de Abril, e o episódio tem o título A Fé é Acção.
Não resisto a respigar este pedacinho:
Assim pagam, mais uma vez, os justos pelos pecadores. Aos domingos, o padre José dava missa na penitenciária e tinha sessões com os presos que pareciam sessões psiquiátricas. Era comum ter de acalmar homens que não aceitavam estar presos por assaltar uma loja, quando os que roubam milhões nos bancos, na política, andam por aí à boa vida, senhor padre!, conversas destas todos os domingos. No jornal da paróquia, a notícia sobre a conversa com os presos podia começar com o lead clássico: “Cansado, mas satisfeito, o padre José regressou ontem do seu trabalho apostólico na prisão do distrito, onde acalmou almas revoltadas com a sua situação pessoal e o estado geral do país. “Os reclusos ficam mais animados, mas por pouco tempo, terei de voltar em breve, assim Deus me dê saúde”, disse o padre José ao nosso periódico”. Cansado sim, satisfeito não. A maior parte daqueles rapazes tem razão. Um dia isto vai levar uma volta. Já o tentaste, não serviu para nada, Deus te perdoe, padre José mas a fé é acção. Tocou o telefone. A senhora da casa atendeu, resmungou, bateu à porta.
- Um homem quer falar consigo, senhor padre. Não diz quem é.
José sacudiu as migalhas e foi à saleta. Um preso aflito. Quando pensavam em matar-se, às vezes ligavam e resolvia as coisas por telefone.
- Sim?
-Sou eu.
- Quem fala?
- Sou eu, amigo, repetiu Fernando.
- És tu…
- Ainda tens o material?
No próximo fascículo: Corações de gasolina.
A coisa continua a prometer.
Legenda: a imagem é a que ilustra o capítulo do folhetim.
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