Esta foi a escolha, para o dia 23 de Abril de 1974, que Eduardo Guerra Carneiro fez para os leitores do Cinéfilo.
Para além da entrevista a António Reis, João César Monteiro assina um curto texto sobre o filme Peregrinação Exemplar de Robert Bresson.
João César Monteiro chamou ao texto Balthazar ao Acaso:
Se há filme que justifique um debate global entre a crítica da especialidade, Au Hasard Balthazar (Peregrinação Exemplar) é, justamente, esse filme. Porquê? Pela soma de questões (algumas ainda não inteiramente resolvidas) que tem posto, com isso comprometendo e questionando todo o cinema que o precedeu e não pouco do cinema que se lhe seguiu. Significa isto que Au Hasard Balthazar é, antes doo mais, na auscultação do que pode ser uma modernidade cinematográfica, um ponto-chave, e tão radical que, em 1966, e aquando de uma primeira e desnorteada abordagem levada a cabo pela equipa do Cahiers du Cinéma, um crítico como François Weyertgans, se perguntava, se, a partir de Bresson, seria possível continuar-se a gostar dos filmes de que, até então, se gostava, tão oposta lhe parecia a proposta bressoniana. Hoje, em dia, a questão não é bem essa, nem os termos adequados serão os de Weyergans, mas não há dúvida que Au Hassard Balthazar assinala o ponto extremo, mais avançado, da investigação bressoniana, face à utilização da matéria significante. De facto Mouchette (Amor e Morte), Uma Mulher Meiga e As Quatro Noites de um Sonhador, que se lhe seguiram e que o público português já teve oportunidade de ver, pouco ou nada lhe acrescentam, antes pelo contrário, tanto mais que a rarefacção aqui conseguida, não só no plano de uma narratividade completamente liberta de qualquer suporte extra-cinematográfico como na obtenção integral de uma “inexpressividade” por parte dos “actores” (há quem afirme que o burro é o actor ideal de Bresson), não voltou a ser igualada nos filmes posteriores de Robert Bresson.
Seja como for, para já o papel do Cinéfilo (que o tem e terá, mais do que se possa pensar) seria sempre o de chamar a atenção para um filme que nos parece extremamente importante, para além do facto, não menos importante, de servir de “baptismo” ao filme importante do nosso Reis (António). Assim sendo, tudo leva a crer que, muito brevemente o filme de Bresson e algumas questões obrigatórias a ele ligadas sejam amplamente tratadas nas páginas do Cinéfilo, ficando, pois, e desde já, à disposição dos interessados, as colunas da nossa revista para a discussão que se impõe.
Mais filmes que podiam ser vistos nesta semana de Abril de 1974
EDEN
Cantinflas às Ordens de Vossência de Miguel M. Delgado com Mário Moreno.
Solícito e obediente, o porteiro Cantinflas faz gala do seu impenetrável conformismo mascarado de eficiência profissional. Um dos exemplos mais medíocres das comédias moralistas feitas para distrair o público
ESTÙDIO 444
O Porteiro de Jean Girault com Bernard Le Coq e Maureen Kerwin
A fobia dos grandes temas burgueses ao serviço do riso fácil e do exibicionismo dos actores, facilitado pelas tradicionais situações do “boulevard” pornográfico.
Sessões Especiais no Império às 18,30 h.
No dia 24
A Regra do Jogo de Jean Renoir com Marcel Dalio, J. Renoir
Da regra à transgressão, do jogo de actores, Renoir desmonta as relações que se processavam no seio da decadente burguesia francesa de 1939. Um filme decisivo na história do cinema.
Para o dia 26 anunciava-se O Gigante de George Stevens com James Dean, Liz Taylor
Também às 18.30h., sessões especiais no Monumental:
O Processo de Orson Welles de e com Orson Welles
Do quotidiano ao pesadelo mais insuportável, é esse o trajecto deste filme monumental que Orson Welles realizou a partir do romance de Franz Kafka. Não perca.
Para o dia 24 anunciava-se Em Nome do Povo Italiano de Dino Risi com Vittorio Gassman, e para o dia 26 Eu Sou Bob Dylan de D.A. Pennbaker.
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