sexta-feira, 27 de abril de 2012

OLHAR AS CAPAS



Jorge de Sena

Selecção e prefácio de Eugénio Lisboa
Capa de Rui Ligeiro
Editorial Presença, Lisboa 1984

Um dia se verá que o mundo não viveu um drama.
 
Todas estas batalhas, todos estes crimes,
todas estas crianças que não chegam a desdobrar-se em carne viva
e de quem, contudo, fizeram carne viva logo morta,
todos estes poetas furados por balas
e todos os outros poetas abandonados pelos que
nem coragem tiveram de matar um homem,
toda esta mocidade enganada e roubada
e a outra que morreu sabendo que a roubavam,
todo este sangue expressamente coalhado
à face integra da terra,
tudo isto é o reverso glorioso do findar dos erros.
 
Um dia nos libertaremos da morte sem deixar de morrer.

Poema de Coroa da Terra, datado de 1942.

Nota do editor:
Durante o mês de Abril, irei apresentando uma série de livros que me acompanharam durante os tempos da ditadura.
Livros que, por isto ou por aquilo, ajudaram a formar uma consciência cultural e política.A sua aparição não obedece a algum critério, e, naturalmente, muitos livros e autores irão ficar de fora. 

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