Adriano Correia de Oliveira morreu há 30 anos.
Como disse Manuel Alegre, o mais corajoso dos cantores do seu tempo, a que Fernando Assis Pacheco juntou era um puto giríssimo, para Urbano Tavares Rodrigues, ternamente, não deixar de fazer notar que tinha alguma coisa de criança.
O Adriano morreu, estoirou, não por incapacidade de resistir (nisso, como em muitas outas coisas, ele foi insuperável); sim por uma estrénua capacidade de amar. Morreu de amor, o Adriano. Amor pela vida, amor pelas pessoas, amor pelas ideias, amor d’amor – enfim. Não há nada de épico nem de grandiosos nestas afirmações. Tão-só o conhecimento das causas. Estava farto, fatigado, desiludido, amargurado, desesperado. Estava doente, sem dinheiro, semiesquecido, ele que sempre esteve em todas; ele que sempre, generosamente, esteve presente onde a sua presença era mais do que necessária: indispensável. Deixara-se prender, como todos os melhores de nós, no fio de Ariane que conduz a um universo concêntrico. Morreu por convicção. Morreu por escolha. E não me venham, agora, com toadas laudatórias aqueles que para essa morte absurda tanto contribuíram. Há um dedo apontado, uma acusação terrível, uma responsabilidade muda que impendem sobre os que o levaram às margens aflitas de uma existência em pelejas rudes, em combates desiguais. O Adriano só exigia a ração de afecto que lhe era devida, e que lhe foi negada. O Adriano só queria que o amassem. Só isso.
E só isso foi-lhe asperamente sonegado. Só isso.
(Parte final do texto Um Calmeirão de Alma Lírica, da autoria de Baptista-Bastos e publicado no semanário O Ponto).
No 1º aniversário da morte de Adriano Correia de Oliveira a RTP 1 transmitiu o documentário Uma Rosa para Adriano, realizado por Dórdio Guimarães numa co-produção que além do realizador envolveu igualmente Leonel de Brito e a própria RTP.
Do que foi essa homenagem, Mário Castrim deu parecer publicado no dia seguinte, no seu Canal de Crítica no Diário de Lisboa :
No dia em que se cumpria um ano desde a sua morte, a RTP prestou homenagem a Adriano Correia de Oliveira.
Hipocrisia sim, mas não tanta.
O programa era uma produção privada, para a qual a RTP não metera nem prego nem estopa.
O documentário era de muito má qualidade, quer quanto às imagens, quer quanto ao som.
De Adriano Correia de Oliveira, apenas tínhamos a voz. Ou seja: nem antes, nem depois do 25 de Abril, se procurou fazer um programa a sério com o artista. A RTP chora lágrimas de crocodilo. Para ela – e hoje mais fortemente do que nunca - «comunista bom, é o comunista morto».
Mesmo nesta homenagem, a situação era ambígua. Ela prestava-se ao Adriano ou ao Manuel Alegre? E se a flor amada de Adriano era o cravo, por que é que o centro da festa era ocupado por uma rosa?
Tu é que fazes bem, Adriano, não lhes ligas…
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