Invariavelmente, as primeira leituras dos jornais do dia incidiam sobre Por Outras Palavras, as crónicas de Manuel António Pina, no Jornal de Notícias.
Muitas dessas crónicas foram transcritas por aqui.
Quando passada uma semana sobre 3 de Agosto, data da sua última crónica e sabendo que Manuel António Pina já gozara o seu período de férias, não havendo mais por outras palavras, fiquei de sobreaviso. E inclinei-me para o título do seu primeiro livro: ainda não é o fim nem o princípio do mundo calma é apenas um pouco tarde.
Manuel António Pina morreu hoje.
O sentido de humor, uma certa graça natural, uma afiada e judiciosa visão dos quotidianos, a sua poesia, as histórias para miúdos vãofazer-nos uma falta levada do diabo.
Queriam um necrólogo, lamento muito, mas não sei fazer.
Possivelmente, Manuel António Pina, deixou um pequeno apontamento, escrito num qualquer guardanapo de papel: se alguém for ao meu enterro com ar triste, nunca mais lhe falo.
De há muito, visita assídua desta casa, continuará a sê-lo.
Por isso eu, (Manuel António Pina),
gravei na tua fronte os caracteres
da morte e da verdade. Proteje-os bem;
e proteje-te deles, se puderes
porque é de noite e estamos ambos sós,
leitura e escritura,
criador e criatura, na mesma inumerável voz.
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