segunda-feira, 15 de outubro de 2012

OS SÉCULOS PEDIRÃO QUE TESTEMUNHES


O post-mortem é o estado em que se atinge o maior reconhecimento público.

Soltam-se as carpideiras, soltam-se lugares comuns, o mais citado é: com a sua morte ficamos todos mais pobres.

Mário Castrim morreu há 10 anos.

Pelas televisões, pelas rádios, pelos jornais foi um troar disto e daquilo.

O Público titulava: Morreu o inventor da crítica de TV.

Choveram elogios sobre o homem, o escritor, o jornalista.

Mesmo os que nunca estiveram de acordo com as suas críticas, os que, ardentemente, o odiavam, deixaram cair lágrimas pungentes.

Passados breves dias, o habitual: um enorme e profundo silêncio.

Para sempre.

Que é ser católico? Ir todos os domingos à missa? Confessar-se? Gostar de João Paulo? Não, isso não serei. Se é ser católico dar, como Cristo, prioridade aos pobres, aos oprimidos, aos injustiçados; se é estar como Cristo a combater a riqueza indevida, a hipocrisia e o poder do dinheiro; se é amar a Terra para melhor merecer o céu, então católico fui, sou e serei.
Olhe, o comunista é aquele que deixou de acreditar na eternidade para acreditar no futuro. O comunista é um cristão para uso quotidiano.
Sim, de facto, nãoe conveniente lembrar quem disse verdades que ferem hipócritas susceptilidades, quem todos os dias, fosse no que quer que fosse, lutava para encontrar uma razão para continuar vivo.

Por aqui temos o hábito de falar de quem gostamos, quando nos dá na veneta.

Não apenas quando há efemérides redondas.


Legenda: página do 24 Horas de 16 de Outubro de 2002.

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