o poema
encontrei-o na
rua.
Suportei-o nas coisas
desiguais
O merceeiro
punha maçãs à porta mas
os meninos
vendiam pentes.
Talvez o meu
poema tenha morado
nos pés
descalços
por isso trago
vozes pó cansaço
trago um poema
sujo
com cheiro a
lenha e a caminhos
trago um poema
que quero agreste
e malcriado.
O poema
encontrei-o nas flores
O jardineiro cantava baixo.
As palavras que
trago talvez
ele as dissesse
antes de mim
por isso o meu
poema se diz terra
vem suado dorido
e com orvalho
colado aos ombros
O poema colhi-o
nos outros
havia homens que
falavam de coisas belas
há daquelas
palavras que só se dizem
de mão em mão.
Foi daí que
nasceram
todas as aves do
meu poema.
Talvez os barcos
também trouxessem versos
algum dia
mas foi com eles
que aprendi
os espaços
vazios.
Os homens partem
de madrugada
foi por isso
que enchi o meu
poema de comboios
e o fechei em
volta
A rima,
desisti-a no passeio
um mendigo
tocava
Foi então que
fiquei com um poema cego.
Um poema de mãos
fechadas
Há quem saiba de
angústias e de luas.
Por mim,
Trago-te os dias
por que passo
nada mais.
Hélia Correia
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