sexta-feira, 29 de maio de 2015

OLHAR AS CAPAS


Helena Vaz da Silva Com Júlio Pomar

Helena Vaz da Silva/Júlio Pomar
Capa: Auto-retrato (design gráfico José Cândido
Edições António Ramos, Lisboa, Novembro de 1980

Quando se formou o Mud Juvenil, eu fiz parte da primeira comissão central, onde estavam entre outros, Mário Soares e Octávio Pato, que assinava na circunstância Octávio Rodrigues…
Em 1946-47 pintei um fresco com mais de 100 metros quadrados no Cinema Batalho, do Porto, encomenda particular que haviam tido a audácia de me confiar e eu a audácia assim destemperada em propor-me e aceitar. Tinha vinte anos. Casara-me. E no intervalo dos andaimes, num quarto minúsculo onde dormia, pintei o «Almoço do Trolha» que anda para a frente e para trás quando se trata de evocar o neo-realismo. A Pide prendeu-me antes do mural estar pronto. Como utilizava a técnica tradicional do fresco, em que cada fragmento tem de ser pintado de uma só vez antes da secagem da parede, o canto inferior direito (cerca de 4 metros quadrados) ficara nu. Assim abriu o cinema e o público acorreu e indagou e soube o porquê. Quando saí da prisão acabei o fresco rapidamente, nas horas em que o cinema não funcionava. Depois a Pide mandou que ele desaparecesse e ele foi tapado. O «Almoço do Trolha» não teve destas desgraçadas honras. Mas quando o expus, o quadro que lhe estava ao lado e se chamava «Resistência» foi apreendido no assalto da Pide à Sociedade de Belas Artes durante a segunda Exposição Geral de Artes, estava eu preso. 

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