Helena Vaz da Silva Com Júlio Pomar
Helena Vaz da
Silva/Júlio Pomar
Capa:
Auto-retrato (design gráfico José Cândido
Edições António
Ramos, Lisboa, Novembro de 1980
Quando se formou o Mud Juvenil, eu fiz parte da
primeira comissão central, onde estavam entre outros, Mário Soares e Octávio
Pato, que assinava na circunstância Octávio Rodrigues…
Em 1946-47 pintei um fresco com mais de 100 metros
quadrados no Cinema Batalho, do Porto, encomenda particular que haviam tido a
audácia de me confiar e eu a audácia assim destemperada em propor-me e aceitar.
Tinha vinte anos. Casara-me. E no intervalo dos andaimes, num quarto minúsculo
onde dormia, pintei o «Almoço do Trolha» que anda para a frente e para trás
quando se trata de evocar o neo-realismo. A Pide prendeu-me antes do mural
estar pronto. Como utilizava a técnica tradicional do fresco, em que cada
fragmento tem de ser pintado de uma só vez antes da secagem da parede, o canto
inferior direito (cerca de 4 metros quadrados) ficara nu. Assim abriu o cinema
e o público acorreu e indagou e soube o porquê. Quando saí da prisão acabei o
fresco rapidamente, nas horas em que o cinema não funcionava. Depois a Pide
mandou que ele desaparecesse e ele foi tapado. O «Almoço do Trolha» não teve
destas desgraçadas honras. Mas quando o expus, o quadro que lhe estava ao lado
e se chamava «Resistência» foi apreendido no assalto da Pide à Sociedade de
Belas Artes durante a segunda Exposição Geral de Artes, estava eu preso.
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