terça-feira, 19 de maio de 2015

OS IDOS DE MAIO DE 1975


19 de Maio de 1975

A comissão de trabalhadores do vespertino República reúne-se com a direcção e chefia da redacção a quem sugerem que apresentem a demissão.

Apoiada pela maioria da redacção, a direcção rejeita.

Em resposta, a CT apodera-se do jornal. Quando sai para a rua no cabeçalho, em vez do director Raul Rego, sai o nome de Álvaro Belo Marques.

Mário Soares responsabiliza o Partido Comunista pelo sucedido.

Em frente ao jornal, militantes socialistas gritam: República é do povo não é de Moscovo, O Jornal não é do Cunhal.

Mário Soares, rodeado de outros dirigentes socialistas, de megafone em punho realiza um comício:

Estamos aqui como patriotas a defender a liberdade de expressão pois não toleramos que uma escassa minoria de pessoas calem aquela que é porventura das poucas vozes livres que ainda existem neste país.

Militares impedem o assalto às instalações.

Em Portugal Depois de Abril pode ler-se:

O PS era ainda um partido mal organizado e não adaptara os seus métodos de acção às exigências do momento. Esqueceu-se de que os jornais, nesta altura, se ganhavam e perdiam nas tipografias e não nas redacções. Isso, de resto acontecera-lhe já no «Diário de Notícias, quando os tipógrafos expulsaram a direcção socialista do jornal, nomeada por Raul Rego quando ministro da Comunicação Social.
A tipografia do «República não era dominada pelo PC mas pela esquerda revolucionária.

Diniz de Almeida em Ascensão, Apogeu e Queda do M.F.A.:

Forçando a crise que lhe interessa muito mais do que o jornal, o PS acusa o PC de estar por detrás dos acontecimentos, o que é obviamente falso. Mas a verdade já não interessa então ao PS.

Dominique  Pouchin lembra a Mário Soares que os empregados e tipógrafos  do jornal, elegeram uma Comissão de Trabalhadores e apenas dois delegados eram militantes do PC, e os outros, mais numerosos, não escondiam a sua hostilidade ao partido de Álvaro Cunhal, mas Mário Soares ( o livro está datado de Abril de  1976)  reafirma que o Partido Comunista foi o instigador número um do conflito.

Dominique Pouchin lembra a Soares uma afirmação de Lopes Cardoso, membro do Secretariado Nacional do PS, datada de 27 de Junho de 1975:

Na minha opinião, o caso República não foi desencadeado com o acordo do Partido Comunista Português. Há alguns comunistas na Comissão de Trabalhadores, mas o P.C. tomou posições de vários matizes, e discretas, sobre o assunto. Não acho que seja responsável pelo caso: de resto, não tinha interesse nisso. Não vejo nenhuma razão para acreditar que o caso haja sido desencadeado com o acordo da direcção do Partido Comunista.


Mário Soares apenas lembra que o PS não é um partido monolítico e cada um tem a sua opinião.



APELO dos redactores do jornal e resposta da Comissão de Trabalhadores, na edição de 19 de Maio.




Comunicado do Partido Socialista, e apelos à manifestação frente ao jornal, distribuídos, durante a tarde, em Lisboa.

Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.
- PortugalDepois de Abril de Avelino Rodrigues/Cesário Borga/Mário Cardoso
- Portugal: Que Revolução? de Dominique Pouchin em conversa com Mário Soares
- O Caso República de Francisco Costa e António Rodrigues.

Legenda: comunicado da nova direcção do República, publicado na 1ª página.

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