Texto 7
Tenho uma pequena coisa africana para dizer aos
senhores
«um velho negro num mercado indígena
a entrançar tabaco» o odor húmido e palpitante sobe dos dedos
a subtileza «rítmica» dos dedos chega a ser uma dor
fere na cabeça o pensamento da sua devotação
extrema quase «intáctil» sobre algo
«algo tabaco»
o que começa a tornar-se como uma «loucura comovida»
por cima dessa massa viva do tabaco
«como ele aflora Deus digitalmente debruçado!»
de repente «vê-se» a inocente diligência
o «sim» sem nada mais
o medo como se fosse mel a escorrer do crânio
por tudo ser de novo tão concentrado e leve
a dor em nós de uma tão forte «ignorância activa»
«a fazer-se« uma prova
de elegância na «razão» do tempo
nenhuma dúvida apenas a lisura branda de um «estilo»
transcorrendo
apetece não ter mais do que a interminável «escrita»
prestes a sufocar e dedo a dedo salva
nas suas pautas gravada a direito como uma implacável
«pormenorização oracular»
como se pode tornar tão veemente uma doçura humana
tão pertinaz a graça e terrífica
a digitalidade do «silêncio»
e a candura quase a corromper-se à força de candura
e então o puro toque no tabaco cria
uma «fria ocorrência de pavor» pois tudo é «ambíguo»
nessa «rima obsessiva» a pertinácia ganha «formas» insuportáveis
dedos na nuca ligamentos invisíveis de tendões
centros nervosos irradiando impulsos cruéis
imóveis animalidades fremindo ocultamente debaixo da «luz»
e percebe-se então o «sangue» a ir e vir
sempre «entrançando» o movimento dos dias e das noites
sobre a tranquila «germinação»
e a terra como um monstro «maternal» que parece dormir
planetas a gravitar em redor dos dedos
uma dolorosa absorção do tabaco pelo ritmo
e assim «é isto o estilo?» até que a cabeça
é como «a vista» e a ideia desta coisa se transforma
«nesta coisa»
e quando enfim alguém «realmente» adormece
nada pára e o tabaco continua a ser entrançado
por dedos «negros» em todos os «sentidos»
e nunca mais será possível esquecer
tudo se repercute um toque passa um toque
a matéria passa de matéria em matéria
o ritmo ligeiro como uma alucinação
falanges falanginhas falangetas no «tabaco terreno»
a pulsar
«linguagem» extenuante pela sua própria «verdade»
«um velho negro num mercado indígena
a entrançar tabaco» o odor húmido e palpitante sobe dos dedos
a subtileza «rítmica» dos dedos chega a ser uma dor
fere na cabeça o pensamento da sua devotação
extrema quase «intáctil» sobre algo
«algo tabaco»
o que começa a tornar-se como uma «loucura comovida»
por cima dessa massa viva do tabaco
«como ele aflora Deus digitalmente debruçado!»
de repente «vê-se» a inocente diligência
o «sim» sem nada mais
o medo como se fosse mel a escorrer do crânio
por tudo ser de novo tão concentrado e leve
a dor em nós de uma tão forte «ignorância activa»
«a fazer-se« uma prova
de elegância na «razão» do tempo
nenhuma dúvida apenas a lisura branda de um «estilo»
transcorrendo
apetece não ter mais do que a interminável «escrita»
prestes a sufocar e dedo a dedo salva
nas suas pautas gravada a direito como uma implacável
«pormenorização oracular»
como se pode tornar tão veemente uma doçura humana
tão pertinaz a graça e terrífica
a digitalidade do «silêncio»
e a candura quase a corromper-se à força de candura
e então o puro toque no tabaco cria
uma «fria ocorrência de pavor» pois tudo é «ambíguo»
nessa «rima obsessiva» a pertinácia ganha «formas» insuportáveis
dedos na nuca ligamentos invisíveis de tendões
centros nervosos irradiando impulsos cruéis
imóveis animalidades fremindo ocultamente debaixo da «luz»
e percebe-se então o «sangue» a ir e vir
sempre «entrançando» o movimento dos dias e das noites
sobre a tranquila «germinação»
e a terra como um monstro «maternal» que parece dormir
planetas a gravitar em redor dos dedos
uma dolorosa absorção do tabaco pelo ritmo
e assim «é isto o estilo?» até que a cabeça
é como «a vista» e a ideia desta coisa se transforma
«nesta coisa»
e quando enfim alguém «realmente» adormece
nada pára e o tabaco continua a ser entrançado
por dedos «negros» em todos os «sentidos»
e nunca mais será possível esquecer
tudo se repercute um toque passa um toque
a matéria passa de matéria em matéria
o ritmo ligeiro como uma alucinação
falanges falanginhas falangetas no «tabaco terreno»
a pulsar
«linguagem» extenuante pela sua própria «verdade»
Herberto Helder
em Poesia Toda, 2º volume.
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