quarta-feira, 27 de maio de 2015

EXTINTA A SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCRITORES


Maio de 1965.

Salazar mandou encerrar e destruir a Sociedade Portuguesa de Autores.

O pretexto foi a atribuição do Grande Prémio da Novela a Luandino Vieira pelo seu livro Luuanda.

Por aqui, acedendo à etiqueta Sociedade Portuguesa de Escritores, encontrarão mais pormenores sobre o miserável atentado.

Numa entrada, datada de 20 de Julho de 1968, José Gomes Ferreira, no 5º volume dos seus DiasComuns, regista o seguinte episódio:

O Nikias trouxe-me a notícia de que a Censura requisitou para ler (sabemos o que isso significa) a Apresentação do Rosto de Herberto Helder – exactamente o que o Carlos e eu tanto temíamos desde a saída do livro. E vai, por certo, mandar apreendê-lo.
É pena! ( Embora considere a Apresentação do Rosto inferior ao Retrato em Movimento. Pelo menos mais apressado.) É pena porque me custa não ver devidamente recompensados os actos de coragem. E nesta terra, destruir certos tabus sexuais literários ainda sabe a desafio de barricadas.
E aqui temos o Herberto Helder enrodilhado num sarilho contra si mesmo. O pobre Herberto Helder que, quando o Abelaira, o Manuel da Fonseca, o Pinheiro Torres, o Gaspar Simões e a Fernanda Botelho estiveram presos, se negou a assinar o débil protesto contra a dissolução da Sociedade Portuguesa de Escritores. Para não perder o emprego na Emissora – diz-se para aí nos Cafés deste país estranho de homens estranhos!
Também corre que a atitude de Herberto Helder, durante o julgamento por abuso de liberdade de imprensa do editor de um livro de Sade, não foi irrepreensível.
Bem. Já sabemos! Como cidadão o Helder pouco vale, nem quer valer, talvez. Sorri do alto do desdém de quem toca todos os dias no frio dos esqueletos.
Mas não escrevi eu já uma vez que o poeta tem deveres mais profundos e terríveis como poeta do que como cidadão?


Legenda: recorte do matutino, monárquico, católico e salazarista, A Voz de 22 de Março de 1965.

Sem comentários: