Maio de 1965.
Salazar mandou
encerrar e destruir a Sociedade Portuguesa de Autores.
O pretexto foi a
atribuição do Grande Prémio da Novela a Luandino Vieira pelo seu livro Luuanda.
Por aqui,
acedendo à etiqueta Sociedade Portuguesa de Escritores, encontrarão mais
pormenores sobre o miserável atentado.
Numa entrada,
datada de 20 de Julho de 1968, José Gomes Ferreira, no 5º volume dos seus DiasComuns, regista o seguinte episódio:
O Nikias trouxe-me a notícia de que a Censura
requisitou para ler (sabemos o que isso significa) a Apresentação do Rosto de Herberto Helder –
exactamente o que o Carlos e eu tanto temíamos desde a saída do livro. E vai,
por certo, mandar apreendê-lo.
É pena! ( Embora considere a Apresentação do Rosto inferior ao Retrato
em Movimento. Pelo menos mais apressado.) É pena porque me custa não ver
devidamente recompensados os actos de coragem. E nesta terra, destruir certos
tabus sexuais literários ainda sabe a desafio de barricadas.
E aqui temos o Herberto Helder enrodilhado num sarilho
contra si mesmo. O pobre Herberto Helder que, quando o Abelaira, o Manuel da
Fonseca, o Pinheiro Torres, o Gaspar Simões e a Fernanda Botelho estiveram
presos, se negou a assinar o débil protesto contra a dissolução da Sociedade
Portuguesa de Escritores. Para não perder o emprego na Emissora – diz-se para aí
nos Cafés deste país estranho de homens estranhos!
Também corre que a atitude de Herberto Helder, durante
o julgamento por abuso de liberdade de imprensa do editor de um livro de Sade,
não foi irrepreensível.
Bem. Já sabemos! Como cidadão o Helder pouco vale, nem
quer valer, talvez. Sorri do alto do desdém de quem toca todos os dias no frio
dos esqueletos.
Mas não escrevi eu já uma vez que o poeta tem deveres mais profundos e
terríveis como poeta do que como cidadão?
Legenda: recorte
do matutino, monárquico, católico e salazarista, A Voz de 22 de Março de
1965.
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