sábado, 2 de janeiro de 2016

POSTAIS SEM SELO


Os pais eram chamados à esquadra, com multa e sermão. Nunca entendi a sanha das autoridades contra as nossas bolas de trapos. Vigiavam-nos como se fôssemos a quadrilha Al Capone. Tínhamos sempre uma sentinela à esquina para avisar quando vinha o polícia. Uma espécie de estado de terror que nos levava a jogar com o coração aos saltos. Percebíamos que a actividade era um pouco ilegal, mas não nos entrava na cachimónia que fôssemos considerados inimigos públicos. Com o tempo, felizmente, a ofensiva assanhada foi diminuindo. Alguém se terá lembrado de que as bolas de trapos não eram instrumentos de revolução. Por aí, o Poder podia dormir descansado.

Dinis Machado em A Liberdade do Drible

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