quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

OLHAR AS CAPAS


A Queda

Albert Camus
Tradução: José Terra
Capa: Bernardo Marques
Colecção Miniatura nº 76
Livros do Brasil, Lisboa, s/d

Não amaremos talvez insuficientemente a vida? Já notou que só a morte desperta os nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não acha?! Como admiramos os nossos mestres que já não falam, com a boca cheia de terra! A homenagem surge, então, muito naturalmente, essa mesma homenagem que talvez eles tivessem esperado de nós, durante a vida inteira. Mas sabe porque nós somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples! Para com eles, já não há deveres. Deixam-nos livres, podemos dispor do nosso tempo, conciliar a homenagem entre o cocktail e uma gentil amante, nas horas vagas, em suma. Se algum dever nos impusessem, seria a memória fraca. Não, é o morto recente que nós amamos nos nossos amigos, o morto doloroso, a nossa emoção, enfim, nós próprios.

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