A Queda
Albert Camus
Tradução: José
Terra
Capa: Bernardo
Marques
Colecção
Miniatura nº 76
Livros do
Brasil, Lisboa, s/d
Não amaremos talvez insuficientemente a vida? Já notou
que só a morte desperta os nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam
de deixar-nos, não acha?! Como admiramos os nossos mestres que já não falam,
com a boca cheia de terra! A homenagem surge, então, muito naturalmente, essa
mesma homenagem que talvez eles tivessem esperado de nós, durante a vida
inteira. Mas sabe porque nós somos sempre mais justos e mais generosos para com
os mortos? A razão é simples! Para com eles, já não há deveres. Deixam-nos
livres, podemos dispor do nosso tempo, conciliar a homenagem entre o cocktail e uma gentil amante, nas
horas vagas, em suma. Se algum dever nos impusessem, seria a memória fraca. Não,
é o morto recente que nós amamos nos nossos amigos, o morto doloroso, a nossa
emoção, enfim, nós próprios.
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