A Humilhação
Philip Roth
Tradução: Francisco Agarez
Capa: Rui Garrido
Publicações Dom Quixote, Lisboa, Abril de 2011
Tinha perdido a magia. O
ímpeto estava esgotado. Nunca tinha falhado no teatro, tudo quanto tinha feito
fora forte e bem-sucedido, e então aconteceu p terrível: deixou de saber
representar. Subir ao palco tornou-se uma aflição. Em vez da certeza de que ia
ser espantosos, sabia que ia fracassar. Aconteceu três vezes seguidas, e na
última já ninguém estava interessado, ninguém apareceu. Não conseguia chegar ao
público. O seu talento estava morto.
É claro que quem alguma
vez o teve terá sempre alguma coisa que o distingue de todos os outros. Eu
sempre me hei-de distinguir de todos os outros, disse Axler para consigo,
porque eu sou quem sou. Transporto isso comigo – e disse sempre as pessoas se
irão lembrar. Mas a aura que ele tivera, todos os seus trejeitos e
excentricidades e especifidades pessoais, o que tinha resultado bem em Falstaff
e Peer Gynt e Vânia – o que tinha valido a Simon Axler a reputação de ser o
último dos grandes actores americanos teatro clássico. Tudo quanto tinha
resultado para fazer dele o que era resultava agora para fazê-lo parecer louco.
Tomava consciência da pior maneira possível de cada momento que estava em cena.
No passado, quando representava não pensava em nada. Aquilo que fazia bem
fazia-o por instinto. Agora pensava em tudo, e aniquilava tudo o que era espontâneo
e vital – tentava controlá-lo com o pensamento e em vez disso destruía-o.
Pronto, pensou Axler para consigo, estava a travessar um período mau. Apesar de
já ter entrado nos sessenta, talvez aquilo passasse enquanto ainda era
inquestionavelmente igual a si mesmo. Não seria o primeiro actor experiente a
passar por aquilo. Muitos passavam pelo mesmo. Eu próprio já passei, pensou, portanto
hei-de arranjar maneira de sair disto. Não sei como irá ser desta vez, mas vou
conseguir. Isto vai passar.
1 comentário:
Mais um grande livro de um grande escritor!
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