Natal. Eis que anunciando
o Cristo que nasceu,
De branco, um Serafim voou
do céu,
À fímbria do vestido a
poeira dos sóis presa...
Vinte anos faz que o viste
a par do Sete-Estrelo.
Cresceste... e nunca mais
tornaste a vê-lo!
Pois basta-te querê-lo:
Ergue as mãos juntas,
Reza...
Natal. Eis que inviolada,
uma Mulher foi Mãe,
E se venera agora (e para
sempre, amém)
A que deu fruto e é pura -
ideal pureza...
Não sabes já vencer-te e
crer sem compreender?
Esquece o que os manuais
dão a aprender:
Mergulha no teu ser,
Como num templo:
Reza...
Natal. Eis que ao luar, os mortos que dormiam
Dos frios leitos lôbregos
se erguiam,
E vinham consoar à sua
antiga mesa...
Não tens que lhes dizer
desde que te hão deixado?
Não sentes os teus mortos
a teu lado?
Pois fala-lhes calado,
Para que te ouçam:
Reza...
Natal. Eis que uma paz, que ao certo é doutra vida,
Abranda toda a terra
empedernida,
E é cada mesa em festa uma
igrejinha acesa...
Abre hoje o coração -
portal que se franqueia.
São todos teus irmãos: até
os da cadeia,
As que andam na má sina e
os que não têm ceia...
Por todos e por ti, Ave,
Maria:
Reza...
José Régio em Natal… Natais
Legenda: pintura de Rubens
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