sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

TOADA DE NATAL


Natal. Eis que anunciando o Cristo que nasceu,
De branco, um Serafim voou do céu,
À fímbria do vestido a poeira dos sóis presa...
Vinte anos faz que o viste a par do Sete-Estrelo.
Cresceste... e nunca mais tornaste a vê-lo!
Pois basta-te querê-lo:
Ergue as mãos juntas,
Reza...

Natal. Eis que inviolada, uma Mulher foi Mãe,
E se venera agora (e para sempre, amém)
A que deu fruto e é pura - ideal pureza...
Não sabes já vencer-te e crer sem compreender?
Esquece o que os manuais dão a aprender:
Mergulha no teu ser,
Como num templo:
Reza...

Natal. Eis que ao luar, os mortos que dormiam
Dos frios leitos lôbregos se erguiam,
E vinham consoar à sua antiga mesa...
Não tens que lhes dizer desde que te hão deixado?
Não sentes os teus mortos a teu lado?
Pois fala-lhes calado,
Para que te ouçam:
Reza...

Natal. Eis que uma paz, que ao certo é doutra vida,
Abranda toda a terra empedernida,
E é cada mesa em festa uma igrejinha acesa...
Abre hoje o coração - portal que se franqueia.
São todos teus irmãos: até os da cadeia,
As que andam na má sina e os que não têm ceia...
Por todos e por ti, Ave, Maria:
Reza...

José Régio em Natal… Natais

Legenda: pintura de Rubens

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