Os Desertores
Augusto Abelaira
Capa: José Cândido
Livraria Bertrand, Lisboa s/d
A seguir chegou Jaime.
Pediu-lhe a folha interior do jornal e principiou a ler. Nada havia que lhe interessasse.
- Qualquer coisa se passa
connosco. Dir-se-á que não somos amigos como éramos – começou pousando o
jornal.
- Não vejo porquê –
respondeu Gabriel. Mas tinha a noção de que mentia, de que na verdade se
passava qualquer coisa.
- Encontramo-nos menos, já
não é todos os dias… Nem sempre apareces… E Ramiro também não. Que fazes agora
no tempo que destinavas a vir aqui? Encontras-te com a Genoveva?
- Não… Por volta das dez e
meia telefona-lhe… E entretanto fico a ler.
- Não tomas café?
- Vou à leitaria da
esquina e levo um livro. Isto fica longe, compreendes? Porque não passas por
lá?
- às vezes penso que ao amigos
substituem as namoradas. Conversa-se com eles quando elas não existem… mas mal
aparecem… Lembras-te do Ernesto? Depois casam-se e então regressam aos amigos…
- Talvez… Por mim não sei
conversar duas vezes sobre o mesmo assunto. Pelo menos quando me refiro a
qualquer coisa que me diga respeito, refiro-me só uma vez. Sabes? Guardo para
Genoveva as coisas importantes… - Sorriu. – Podia guardar para ti o privilégio
de falar dela, não é?
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