segunda-feira, 31 de julho de 2023

NOTÍCIAS DO CIRCO

Ricardo Salgado vai ser julgado pelos crimes de que estava acusado, de acordo com a decisão instrutória lida hoje no Tribunal Central de Instrução Criminal .(Lisboa).

São 65 crimes, aqueles que a Justiça conseguiu avaliar, onde surgem  associação criminosa, corrupção ativa, falsificação de documento, burla qualificada e branqueamento.

A derrocada do BES terá causado prejuízos superiores 11,8 mil milhões de euros.

O juiz acabou por concluir que Ricardo Salgado foi líder de uma associação criminosa na cúpula do Banco.

O que resta desta notícia é o tempo que vai decorrer até que Ricardo Salgado se sente no banco dos réus.

Entretanto os advogados de Ricardo Salgado & Cª vão fazer todos os seus brilhantes esforços para que esse tempo dure, dure, dure…

Fancaria... anda meio mundo a enganar outro meio.

domingo, 30 de julho de 2023

OLHARES


 Lisboa, Avenida Almirante Reis.

Colabaoração de Aida Santos

sábado, 29 de julho de 2023

TORGA ENTRE OS SETE FARISEUS-HIPÓCRITAS

«Escrevi o Mundo Fechado enquanto minha filha dormia; a cozinha era de telha-vã e havia um ratinho esperto ao qual eu punha comida na dispensa todas as noites. E lá vinha o aroma das tílias anunciando os exames e o seu terror laureado de esperanças. O livro foi recebido com agrado, só o Torga me deu uma resposta convencional que não me caiu bem. Fiquei fula e qualifiquei-o entre os sete fariseus-hipócritas que estão registados no Talmude e dos quais faz a sátira.»

Agustina Bessa-Luís em O Livro de Agustina

sexta-feira, 28 de julho de 2023

CAMINHADA DA VERGONHA


Em Portugal não há nenhuma religião oficial.

Poderemos então gastar milhões de euros num evento da religião católica?

A Jornada Mundial da Juventude que irá ocorrer nos primeiros dias de Agosto teria que ser paga pelo Vaticano, por Fátima, pelas diversas igrejas católicas espalhadas pelo país.

Não vai ser!

O artista plástico português Bordalo II desenrolou, em protesto, um tapete ilustrado com notas de 500 euros na escadaria do altar-palco do festival.

Chamou-lhe  Walk of Shame, em português  Caminhada da Vergonha e explica que «num estado laico, num momento em que muitas pessoas lutam para manter as suas casas, o seu trabalho e a sua dignidade, decide investir-se milhões do dinheiro público para patrocinar a tour da multinacional italiana.»

Muitos aplaudiram, outros chamaram-lhe demagogo.

NOTÍCIAS DO CIRCO

Não sei o que se pode chamar ao nosso Ministério da Defesa.

Talvez um sítio muito mal frequentado.

O Público adianta hoje:

«João Gomes Cravinho explicou esta sexta-feira que Marco Capitão Ferreira de facto "contribuiu" com "os seus conhecimentos na área da Defesa Nacional", no âmbito de um "grupo de pessoas com olhares e experiências distintas na área", para a realização de um estudo, contributo esse que não foi remunerado. O actual ministro dos Negócios Estrangeiros justifica assim que Capitão Ferreira tenha participado, entre Fevereiro e Março de 2019, numa "comissão fantasma"junto do Ministério da Defesa, que Gomes Cravinho tutelou até Março de 2022, ao mesmo tempo em que prestava assessoria, nesse caso remunerada, à Direcção-Geral de Recursos e Defesa Nacional (DGRDN), avançou a Visão na passada quinta-feira. A revista cita documentos e emails que mostram que foi o próprio Capitão Ferreira a retratar tal comissão como uma “comissioni fantasmi”.»

 Comissão fantasma.

 Isto estará mesmo a acontecer?

Ainda andarão por lá os velhos submarinos do Portas ministro?

Cada cavadela, cada minhoca?

Está um calor de ananases!

quinta-feira, 27 de julho de 2023

SINÉAD O' CONNOR (1966-2023)


 Morte deSinéad O’ Connor aos 56 anos.

Uma cantora excepcional, uma vida repleta de drama, tristeza, solidão.

Leia-se o que a realizadora Teresa Villaverde escreveu no jornal Público no dia 22 de Janeiro de 

2022.

CAMBADA DE MALANDROS!

O actor Kevin Spacey , num tribunal em Londres, foi considerado inocente  de nove acusações de agressão sexual intentada por quatro oportunistas em busca de dinheiro fácil.

Kevin Spacey foi uma das primeiras vítimas da gentalha que se alberga por debaixo do chapéu dessa coisa a que chamam «Me Too».

Os tribunais absolveram o actor.

Mas quem lhe devolve a vida de todos estes infernais últimos anos?

quarta-feira, 26 de julho de 2023

SENTADO NUMA CADEIRA

«Eu só governarei Portugal se ganhar as eleições. Só governarei se tiver a confiança do povo. É assim que eu vejo a forma de catapultar Portugal para um projeto de transformação, de mudança, de esperança para o futuro", afirmou o responsável socialista aos jornalistas, no decorrer de uma visita ao centro de saúde da Calheta, na zona oeste da Madeira, no âmbito da jornada 'Sentir Portugal' que decorre nesta região autónoma.»

Luís Montenegro

A frase foi dita na Madeira e acabou por se sentar numa cadeira a olhar as estrelas.

OLHAR AS CAPAS


O Livro de Agustina

Agustina Bessa-Luís

Capa: Ilídio J.B. Vasco

Guerra e Paz Editores, Lisboa, Setembro de 2007

Esta é a minha história que a memória abreviou, quando não é que a modéstia e repreende. Somos sempre muito faladores com o insignificante e muito calados com o que nos assusta. Assusta-nos o íntimo das nossas vidas, por passarmos todas as portas sem pensar que elas se fecham sempre atrás de nós. Não podemos voltar para compor o inacabado ou as palavras soltas ou a que faltou a experiência. 

NOTÍCIAS DO CIRCO

 O título pertence ao Público de hoje:

«Advogados de Braga também são arguidos no caso Altice.»

Nada que não soubéssemos!...

Um mundo de aldrabões!

«A lista de arguidos do caso Altice continua a aumentar. Os advogados Ricardo Sobral e Duarte Monteiro, que são suspeitos de terem ajudado a desenhar os esquemas empresariais que estão sob investigação do Ministério Público na Operação Picoas, juntaram-se a uma lista onde estão o co-fundador da Altice Armando Pereira, o empresário de Braga Hernâni Vaz, uma das filhas deste, Jéssica Antunes, e o economista Álvaro Gil Loureiro.»

terça-feira, 25 de julho de 2023

NO CAIR DA NOITE...

Não sei o que dizer.

Acontece frequentemente.

Mas hoje…

Um clube do submundo pretende oferecer dois milhões de euros por dia a um jogador de futebol.

Se alguma dúvida existisse, deixei de a ter: o futebol acabou!

segunda-feira, 24 de julho de 2023

NOTÍCIAS DO CIRCO

Portugal  Telecom, Altice.

Empresas privatizadas pelos ultraliberais.

À frente das empresas colocaram uma rapaziada que, refastelada no ar condicionado, trataram de engendrar esquemas que lhes tratassem da vidinha, a presente e a futura.

Pelo meio obtiveram prémios de excelência todos eles pagos a bom dinheiro.

É assim a  excelência-mor do nosso empresariado.

O Ministério Público suspeita que a gentalha empresarial estão envolvidos em esquemas fraudulentos  que terão lesado as empresas e o Estado em mais de 100 milhões de euros.

Altice. Armando Pereira e Hernâni Vaz Antunes ficam em prisão domiciliária
MP suspeita que Armando Pereira e Hernâni Antunes estão envolvidos num alegado esquema fraudulento, que terá lesado o Estado em mais de 100 milhões de euros.

O juiz Carlos Alexandre, o cristiano ronaldo da justiça, decidiu aplicar a prisão domiciliária como medida de coacção à tal rapaziada. O Ministério Público tinha pedido que um deles, pelo menos, prestasse uma caução de 10 milhões de euros.

O povoléu tem sempre impressionantes dúvidas por que esta gentalha de colarinho branco não bate com os costados na pildra.

Assim ficam em casa, comendo e bebendo do fino, engendrando com os advogados do costume outros esquemas e esqueminhas.

Abençoada justiça!

domingo, 23 de julho de 2023

TONY BENNETT (1926-2023)


 Tony Bennett morre aos 96 anos.

Era o último representante desse mundo encantado de “crooners”, standards, “big bands”. Não sendo um cantor de jazz é aí que foi beber tudo e que fez dele um cantor repleto de sensibilidade melódica e sentimental.
«Cresci numa época em que os artistas levavam dez anos para amadurecer, compartilhavam as suas experiências com os colegas e estudavam música seriamente. Hoje os jovens não têm possibilidade de se desenvolver, de aprender o seu ofício. Quem manda na carreira deles são os produtores musicais, que simplesmente abandonam o artista quando um disco não faz tanto sucesso quanto se esperava. O resultado é que a maioria absoluta das carreiras dura pouco tempo.»
Sabe-se lá porquê, várias vezes, acusaram-no de nunca ter composto uma canção, com aquele seu sorriso, concordava com o disparate mas acrescentava: «Já viu muitos cantores a pintarem quadros? Pois eu pinto!»

sábado, 22 de julho de 2023

OLHAR AS CAPAS


O Roque e a Amiga

Bernardo Brito e Cunha

Prefácio: José Duarte

Capa: Luís J. Furtado

Produções Águas Livres, Lisboa s/d

Roque entrou em casa com uma das mãos atrás das costas e começou a procurar a amiga pelas várias divisões. Encontrou-a na terceira, estendida a ler o dicionário. Chegou-se ao pé dela, sempre com a mão escondida atrás das costas, fez-lhe cócegas na planta do pé e deu-lhe um beijo na orelha.

A amiga, naturalmente, espantou-se:

- O que se passa?

Roque sorriu.

- É que hoje é um dia especial.

Um dia especial? Como assim?

-É que faz hoje cinco meses que você veio cá para casa.

E tirando finalmente a mão de atrás das costas, ofereceu-lhe um raminho de mimosas violetas. A amiga ergueu-se, abismada, no sofá.

- O Roque! Você lembrou-se… Que querido!

Cheirou as violetas, olhou-o ternurenta e disse:

- Você é um amor, Roque. Um amor perfeito.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Esse rapaz historiador, ou biografante, que dá pelo nome de Joaquim Vieira, no seu José Saramago: Rota de Vida, tem um capítulo, que intitulou O Pinga Amor, onde dá conta das mulheres da vida de José Saramago, capítulo erigido para deleite de balzaquianas e afins.
Terá esquecido Domitília. E, no entanto, Saramago fala da moça em As Pequenas Memórias:

«Quanto à Domitília, fomos apanhados, um dia, ela e eu, metidos na mesma cama, a brincar ao que brincam os noivos, activos, curiosos de tudo quanto no corpo existe para ser tocado, penetrado e remexido. Pergunto-me que idade teria nessa altura e creio que andaria pelos onze anos ou talvez um pouco menos (na verdade, é-me impossível precisar, pois morámos por duas vezes na Rua Carrilho Videira, na mesma casa). Os atrevidos (vá lá a saber-se qual de nós teve a ideia, ainda que o mais certo é que a iniciativa tenha partido de mim) apanharam umas palmadas no rabo, creio recordar que bastante pró-forma, sem demasia da força. Não duvido de que as três mulheres da casa, incluindo a minha mãe, se tivessem rido depois umas com as outras, às escondidas dos precoces pecadores que não tinham podido aguentar a longa espera do tempo próprio para tão íntimos descobrimentos. Lembro-me de estar na varanda das traseiras (um quinto andar altíssimo), de cócoras, com a cara metida entre os ferros, a chorar, enquanto a Domitília, na outra ponta, me acompanhava nas lágrimas. Mas não nos ficou de emenda. Uns anos depois, já eu morava no número 11 da Rua Padre Sena Freitas, ela foi visitar a tia Conceição, e o caso é que não havia ali tia nem tio, nem meus pais estavam em casa, graças ao que tivemos tempo de sobra para acercamentos e investigações que, embora não chegando a vias de facto, deixaram inapagáveis lembranças a um e a outro, ou pelo menos a mim, que ainda daqui a estou a ver, nua da cintura para baixo. Mais tarde, moravam já os dois Baratas na Praça do Chile, eu ia visitá-los com a mira posta na Domitília, mas, como então já éramos crescidos e estávamos habilitados para tudo, difícil mente podíamos ter um momento só para nós. Foi também na Rua Padre Sena Freitas que dormi (ou não dormi) parte de uma noite com uma prima (tinha o nome da minha mãe, Maria da Piedade, que além de ser sua tia, era também sua madrinha), um pouco mais velha que eu, deitados na mesma cama, ela da cabeceira para os pés, eu dos pés para a cabeceira. Precaução inútil das ingénuas mães. Enquanto elas retomavam na cozinha a conversa que não devíamos ouvir e que haviam interrompido para nos levarem à cama, onde com suas próprias e carinhosas mãos nos taparam e aconchegaram, nós, depois de alguns minutos de ansiosa espera, com o coração aos saltos, debaixo do lençol e da manta, às escuras, demos começo a uma minuciosa e mútua exploração táctil dos nossos corpos, com precipitação e ansiedade mais do que justificadas, mas também de uma maneira que foi não somente metódica mas também o mais instrutiva que estava ao nosso alcance chegar do ponto de vista anatómico. Recordo que o primeiro movimento da minha parte, a primeira abordagem, por assim dizer, levou o meu pé direito a tactear o púbis já florido da Piedade. Fingíamos dormir como dois anjos quando, ia adiantada a noite, a tia Maria Mogas, que estava casada com um irmão de meu pai chamado Francisco, a foi buscar à cama para regressarem a casa. Aqueles, sim, eram tempos de inocência.»

José Saramago em As Pequenas Memórias, página 42

OLHAR AS CAPAS

Desenhos

Ofélia Marques

Desenhos para Aventuras Maravilhosas de João Sem Medo

Edição Comemorativa do Centenário do Nascimento de José Gomes Ferreira

Edição da Câmara Municipal de Lisboa, Novembro de 2000

Trata-se de uma caixa com 25 postais das ilustrações que Ofélia Marques,  em 1933, publicou em O Senhor Doutor para o livro de José Gomes Ferreira.

José Gomes Ferreira considerava que Aventuras Maravilhosas de João Sem Medo o seu melhor livro.

Ofélia Marques, casada com Bernardo Marques, eram compadres de José Gomes Ferreira.

«Entretanto nascia-me um filho que o Bernardo e a Ofélia Marques apadrinharam, e as duas famílias decidiram instalar-se no enorme segundo andar do nº 6 da Calçada dos Cetanos ( o prédio onde morreram o Ramalho e o Oliveira.»

José Gomes Ferreira em A Memória das Palavras

quinta-feira, 20 de julho de 2023

OS ITINERÁRIOS DO EDUARDO


Este Itinerário do Eduardo não é bem um itinerário.

São duas palavras: «balneários públicos» e retratam um tempo curto do seu quotidiano, só dele,  que mete laranjas, um cigarro, nevoeiros…

«Os balneários públicos, laranjas, um cigarro, o rescaldo das drogas, a redescoberta, o Terreiro da Sé cheio de nevoeiros.»

Em Isto Anda Tudo Ligado.

Balneários públicos.

Este nosso país, que alguns dizem desenvolvido, o saneamento básico ainda não existe por completo e originam doenças provenientes dos solos contaminados.

«Aos 29 anos, Madalena ficou viúva, com duas filhas pequenas e vivia numa ilha de Ramalde, mais pobre não podia ser. Lá está, quantos doutores não sabem que "ilha" é um pátio nas traseiras, ainda mais pobre do que o bairro à volta?»

Diário de Notícias, 17 de Abril de 2020

MÚSICA PELA MANHÃ


 «Correu tudo muito bem em Hollywood e na Broadway. Aqui actuei durante três semanas da primeira vez e oito da segunda. Chegado a Hollywood, foi a mesma coisa. Mas propuseram-me um filme com Marilyn Monroe, num papel que me queimaria até ao fim da minha vida. De resto, Cary Grant e Gregory Peck tinham-no recusado. Mas a ideia de ne estrear em Hollywood fez-me esquecer os riscos que corria, e, depois, conhecer uma mulher como Marilyn era um dos meus sonhos de garoto… Foi uma experiência que me marcou. Há alturas em que devíamos ser Einstein, mas somos apenas nós!»

Yves Montand em O Canto de Um Homem

O filme chama-se Let’s Make Love e foi realizado por George Cukor ,mas Yves Montand andou perdido na pele de um milionário. «Não basta usar chapéu para se ser milionário, nem andar sempre de charuto na boca» e Marilyn Monroe ainda não chegara aos seus melhores dias.

O filme não terá sido o semifracasso que os críticos apontaram.

Contém algumas cenas deliciosas como esta em que Monroe aparece a cantar  My Heart Belongs to Daddy.



quarta-feira, 19 de julho de 2023

OLHARES


 O Pote, ali na João XXI, em Lisboa, tempos idos, décadas 60/70, era um vulgar restaurante, como tantos na cidade, mas que a partir da meia-noite virava tasca onde desaguava toda a casta de noctívagos, para umas bifanas, uns pregos com ovo a cavalo, vinhos, cervejas, também para o último copo, o último não, o penúltimo, porque o ultimo, esse, é na hora da morte.

Hoje O Pote, que naquele tempo não tinha a esplanada que se vê na imagem, é um restaurante sossegado e nunca mais virará, depois da meia-noite, hora de fantasmas e sonhadores, o quase-albergue-espanhol daqueles tempos.

Por estes sítios aconteceram conspirações, amores, desamores, conversas sem fim, que não se sabia se alguma vez tiveram um princípio, discussões várias e agitadas, pertencer a uma geração que quando queria fugir de si própria, não era bem fugir, desaguava em livros, músicas, filmes, cervejas, vinhos, muitas cigarradas
Mas O Pote era o preferido. Dele fazíamos porta-aviões, quando tudo já encerrara portas na cidade. Ingenuamente (poderia ter sido de outra forma?), unidos, a tentar ajudar outros, que queriam derrubar uma ditadura. Foi bom esse tempo, um tempo de causas, objectivos, éramos felizes, simplesmente não o sabíamos.
Numa madrugada, a tal ditadura caiu.
Depois, bom depois, não sabe se inevitável ou não, cada um partiu para o seu lado e trataram de arranjar inimigos diferentes.

terça-feira, 18 de julho de 2023

CONVERSANDO

Encontrei uma pasta com uma série de recortes sobre e de Agustina Bessa-Luís. Foi um propósito que englobava o quanto Agustina Bessa-Luís, após a sua morte, caiu num certo esquecimento, mesmo por aqueles que sempre a idolatraram.

Pela minha parte o não apreciar Agustina é uma questão política.

«Fico mais espantada quando as pessoas dizem que gostam de mim. Não vejo razões para gostarem de mim porque eu também não gosto  da maioria das pessoas.»

Irei voltar a esta pasta agustiana. 

segunda-feira, 17 de julho de 2023

POSTAIS SEM SELO


 Tire o seu sorriso do caminho

Que eu quero passar com a minha dor.

Maria Bethânia

AINDA TE CRUZAS CONTIGO MESMA

«Rapidamente se controlou, chegando à conclusão de que nada voltava a acontecer; cada pessoa recebia dias e oportunidades que não se repetiam.

-Tiveste um longo dia – comentou Furlong.

-Não faz mal – respondeu. – O que importa é que está feito. Não sei porque deixei o bolo para o dia de São Nunca. Todas as mulheres que encontrei esta noite já tinham feito os seus.

- Se não abrandares, Eileen, ainda te cruzas contigo mesma no regresso.»

Claire Keegan em Pequenas Coisas Como Estas

AS FOTOGRAFIAS DO VIAJANTE


 

Tavira, Julho 2021.

OLHAR AS CAPAS

 Esta Lisboa

Alice Vassalo Pereira

Fotografias de António Pedro Ferreira

Editorial Caminho, Lisboa, Outubro de 1993

O Bilhete-Postal

Não podemos fugir, em toda a parte nos espreitam: dos folhetos turísticos, dos quiosques e tabacarias com estendais de postais ilustrados, dos documentários para estrangeiro ver. São as imagens institucionalizadas da cidade, os bilhetes-postais que se compram para mandar à família que ficou longe. Apesar de tudo, todos têm uma história.

domingo, 16 de julho de 2023

DITOS & REDITOS


Meditar é curar o presente de alguma coisa.

Os problemas são para se começar a resolver no momento seguinte a surgirem.

Por que diabos estamos sussurrando?

Não sabe e não quer aprender.

Tudo e mais um par de botas.

Tanto faz não é resposta.

O destino é um tipo sem moral nenhuma.

O ferro deve bater-se enquanto está quente.

CRONICANDO POR AÍ


Este calor de ananases anda a dar cabo de mim. Vingo-me em leituras frescas como esta crónica do Manuel S. Fonseca que roubo do seu blogue.

Também estive naquela mão do Vata, entalado no meio de 120 mil benfiquistas, mesmo no lado norte, no enfiamento da baliza, e juro que não vi mão nenhuma e não vi por circunstâncias várias.

O Vata também não, e até morrer dirá que não houve mão nenhuma, Talvez um ombro… «e cada um é livre de pensar o que quiser…»

«O Valdo cobrou um canto, o Magnusson saltou à minha frente e desviou de cabeça na área e a bola veio ter na minha direção. Meti o ombro e foi golo.»

O Manuel S. Fonseca coloca uma imagem da mão do Maradona, eu coloco uma imagem da mão do Vata, exactamente no dia em que ali atrás declaro que irei comprar a «Vida de Beethoven» da «Guerra & Paz», editora de que é proprietário este mesmo Manuel S. Fonseca.

Saravá!

«Houve uma guerra, é bom que se diga. Eu vou, é certo, falar de paz, da paz gritada, apupada, esfusiante e delirante, que é um jogo de futebol. Não posso é esconder que houve antes uma guerra e que as tropas inglesas da democrática Senhora Tatcher tinham agarrado pelos colarinhos e humilhado as tropas do ditador argentino, o general Videla.

A guerra fora nas Maldivas, mas estava-se agora no Estádio Azteca. O nome do estádio já provoca uma aflição kirkegaardiana: a angústia dos ecos ancestrais do choque de índios e conquistadores ressoava ainda em cada pedra do estádio. E estarem frente a frente, nessa final do Mundial de 1986, no quente mês de Junho, as equipas da Inglaterra e da Argentina, deixa cair sobre esse confronto um épico pingo de “capsaicina”, a substância activa “del chile”, o picante que faz arder “las carnitas” e “los tacos” mexicanos.

No Estádio Azteca, eram duas civilizações que estavam frente a frente. E lembrem-se, o próprio esférico, uma estreia, era uma bola novinha em folha, igualmente chamada Azteca, o nome a acordar os demónios do passado, mas na forma um exemplo de revolução tecnológica, a primeira bola de futebol a dispensar o couro, toda em adricron, um revestimento sintético impermeável, trinta e duas faces hexagonais elegantes, e de uma inquebrantável longevidade. O horror que foi jogar anos com bolas de catechu, a que uma boa chuvada acrescentava meia tonelada: eis o que afogou o mínimo Eusébio que havia em mim, a encharcada e incirculante bola de catechu.

Adiante e vejam, é a nova bola revolucionária que circula entre Shilton e Lineker, entre Valdano e o pequeno deus chamado Diego Maradona. Durante 45 minutos, esses dois mundos ressentidos, a nórdica rosa dos Tudor e o azul ultramarino das pampas, mediram-se, sem se ferir. Mas aos seis minutos da segunda parte, o defesa Steve Hodge tenta aliviar a pressão sobre a sua área: a mal pontapeada bola ganha efeito e cruza a área, Shilton, o guarda-redes, salta com Maradona. O punho de Shilton vai lá acima, a 200 metros de altura, mas o pequeno Maradona, num exercício de prestidigitação, voa 201 metros e a sua cabeça desvia a bola para o fundo das redes. E há aqui um grande imbróglio teológico-anatómico: a cabeça de Maradona ali, a 201 metros de altura, tão perto do céu, foi roubada por um Deus omni-invejoso. Deus, sentindo o homérico jogo de futebol a roçar-lhe os berlindes, quis também jogar e pôs a sua mão onde devia estar a cabeça prodigiosa de Dieguito. Diga-se, àquela bola, toda feita do leve adricron, bastaria, se Deus quisesse, um simples sopro, mas quem não quereria, em 1986, mesmo Deus, sopesar na própria mão a leveza desse revestimento sintético, o poliuretano, à prova de água.

Essa bola, a Azteca do Estádio Azteca de 1986, esteve, até ao ano passado, nas mãos do árbitro tunisino, Ali Bin Nasser, que Deus iludiu naquela jogada disputada nas nuvens. Quis agora o árbitro, sufocado pela insidiosa presença de Deus, descarregar a temível sombra sobre a humanidade. Num leilão, alguém pagou 2,4 milhões de dólares para ter em casa a bola que a mão de Deus tocou. Já pela camisola de Maradona, que ele, no fim do jogo, dera a Hodge, o inglês que fez o involuntário centro, em leilão alguém ofereceu e pagou mais de 9 milhões, a mais cara camisola de futebol de sempre.

Onde está, pergunto eu, a bola que a mão de Vata meteu na baliza do Olympique de Marseille, no jogo que estes meus olhos viram e que levou o Benfica à final da Liga dos Campeões? O que eu não pagaria por ela em leilão!»

Manuel S. Fonseca em A Página Negra

OLHAR AS CAPAS


Epistolario de Beethoven

Introduccion e traduccion Española: Augusto Barrado

Editorial Poblet, Madrid s/d

Los Reys y los pricipes, pueden sin duda, crear professores, consejeros privados, etc, y conferirles títulos honoríficos, condecoraciones… Lo que está fuera de su alcance es hacer grandes hombres, espíritus que se eleven sobre la vulgar muchedumbre. DE ahi que tengan que dejar a otros esse menester, y hay que estarles agradecidos por ello. Cuando dos seres como Goethe y yo se unen, esos grandes señores podrán compreender q a quénes corresponde el título de grandes entre los mortalhes.

De uma carta a Bettina de Arnin

sábado, 15 de julho de 2023

O OUTRO LADO DAS CAPAS


Beethoven era o compositor favorito do meu pai, o primeiro entre os primeiros.

O ter lido que a editora Guerra & Paz publicou recentemente a «Vida de Beethoven» de Romain Rolland, um admirável livro sobre a vida e a obra do génio, leva-me a olhar o outro lado das capas

Na Biblioteca da Casa existem 5 volumes de uma biografia de Beethoven da autoria de Jean e Brigitte Massin.

O 1º volume aborda os anos de 1770 a 1802, o 2º volume de 1802 a 1812, o 3º volume de 1813 a 1827, o 4º volume reúne a história das obras beethovianas e o 5º volume constitui um ensaio para compreensão do homem e da obra de Beethoven.

Dizem os autores:

«Este livro está cheio de um amor sem reserva e sem limite por Beethoven.»

Certamente que a obra de Beethoven impõe-se por si mesma, mas o que se possa ler sobre o compositor ajuda a vislumbrar caminhos e horizontes.

Por um destes dias terei que ir comprar o livro de Romain Rolland que existia, na Biblioteca da Casa, em francês, mas nunca o li porque nunca toquei piano nem falei francês. O livro não anda por aqui pois terá desaparecido num daqueles empréstimos que o meu pai tinha o gosto e a necessidade de praticar.

OLHAR AS CAPAS


Ludwig van Beethoven

Jean e Brigitte Massin

Tradução: Mário Vieira de Carvalho

Capa: Soares Rocha

Editorial Estampa, Lisboa, Janeiro de 1972

1797

É neste momento, mais ou menos por altura do dia de Ano Novo, que Beethoven, escreve no seu caderno:

«Coragem! Apesar de todo os desfalecimentos do corpo, o meu génio há-de triunfar. Eis-me com vinte e cinco anos, é preciso que este ano revele o homem feito. Nada deve ficar por fazer.»

sexta-feira, 14 de julho de 2023

A MÚSICA É A LÍNGUA MATERNA DE DEUS

A música é a língua materna de Deus.

Aliás foi isso que nem católicos nem protestantes entenderam, que em África os deuses dançam.

E todos cometeram o mesmo erro: proibiram os tambores.

Na verdade, se não nos deixassem tocar os batuques, nós, os pretos, faríamos do corpo um tambor.

Ou mais grave ainda, percutiríamos com os pés sobre a superfície da terra e assim abrir-se-iam brechas no mundo inteiro.

Mia Couto

quinta-feira, 13 de julho de 2023

POSTAIS SEM SELO


 «Os parvos pertencem todos à mesma pátria com nomes diferente.»

José Gomes Ferreira em Dias Comuns, 2º Volume

OLHAR AS CAPAS


Relaxamento Puro

Colorir & Descontrair

Vemag Editores, Colónia s/d

 A nossa vida é agitada e veloz. Por vezes sabe bem tirarmos conscientemente tempo para nós próprios, abandonar a agitação do quotidiano, acalmar e relaxar por um momento. Este livro de colorir para adultos vai ajudá-lo nesse sentido.

Colaboração de Aida Santos

quarta-feira, 12 de julho de 2023

POSTAIS SEM SELO


 -  Não leio. É um livro mau.

- Mas toda a gente diz que é bom.

- Exactamente por isso.

Vergílio Ferreira em Conta-Corrente, 4º Volume

JOSÉ LUÍS CARNEIRO NÃO FOI CHARLIE?


 «O ministro José Luís Carneiro declarou, placidamente, como se fosse a coisa mais normal deste mundo, ter telefonado diretamente ao presidente do conselho de administração da RTP, a televisão pública, para "manifestar desagrado" (cito as palavras usadas pelo próprio) com um cartoon animado que caricaturava o suposto racismo da polícia francesa, na sequência dos acontecimentos que geraram vários dias de motins, mas cujo desenho foi entendido por alguns como sendo também uma acusação à polícia portuguesa.

 O ministro José Luís Carneiro, que tutela as polícias, talvez tenha sentido que essa era a sua obrigação, que tinha de defender a imagem dos polícias portugueses, mas para o fazer usou algo que liquida a sua própria credibilidade democrática - abusou da autoridade que o cargo de ministro da Administração Interna lhe confere.

 É verdade que os Estatutos da RTP dão aos diretores de Informação toda a autonomia e responsabilidade editorial do jornalismo da RTP, sendo teoricamente imunes a interferências do próprio conselho de administração, quanto mais do governo.

 Na programação, a força formal dessa blindagem não existe. Porém, para além do próprio conselho de administração, há estatutariamente vários órgãos que lateralmente podem verificar se a RTP está a cumprir na programação os requisitos do serviço público que presta, como o conselho geral independente e o conselho de opinião.

 A ERC e a própria Assembleia da República também podem pronunciar-se, dentro dos limites da regulamentação existente, sobre o que anda a televisão pública a fazer.

Há ainda provedores de espectadores, instituídos pela própria estação, que fazem análise crítica ao conteúdo das emissões.

 Nada na comunicação social portuguesa é tão escrutinado como o conteúdo da RTP, televisão e rádio, Isso acontece todos os dias, e ainda bem que é assim.

Mas ninguém do governo, enquanto tal, tem enquadramento legal para fazer o que José Luís Carneiro disse que fez. Nem, sequer, o ministro da tutela - e esta distância entre a televisão pública e o executivo foi algo duramente construído ao longo de quase cinco décadas de democracia, e que afasta a RTP dos tempos em que ministros telefonavam a diretores de Informação para discutir o alinhamento do Telejornal.

 Esse progresso, que aparentava ser consensual, está, pelos vistos, em risco de regressão.

 A simples sensibilidade política é também diferente se for um membro do governo a refilar contra a RTP ou se for um partido da oposição a protestar por uma qualquer notícia que lhe desagrade.

 Os partidos, isoladamente, não têm poder efetivo sobre a RTP e, por isso, as suas reclamações são um direito de intervenção pública que não lhes pode ser negado.

Poderá ser eventualmente aceitável que um membro do governo faça críticas ou elogios públicos a qualquer conteúdo da RTP, mas, na realidade informal, o peso do poder de um ministro implica que neste caso seja mais ténue a linha que separa a manifestação de uma posição política legítima da de uma interferência abusiva.

 José Luís Carneiro ultrapassou claramente essa linha ao telefonar diretamente ao presidente do conselho de administração, Nicolau Santos, pois esse contacto pode legitimamente ser interpretado como uma tentativa de coação política direta, um afrontamento personalizado de alguém, que está no poder executivo do país, sobre alguém que executa um contrato de serviço público. Nessa conversa, implicitamente, apesar de todas as defesas legais, está subentendido quem manda mais, quem está por cima, quem está por baixo e quem pode começar a trabalhar para fazer a vida negra ao outro. É, repito, um abuso de poder.

 Mas, pior do que isto tudo, é o ridículo. Meu Deus! Estamos a falar de um cartoon, que uns gostarão e outros não, mas é um cartoon, não é para levar a sério, não é para gastar tempo político e nos tribunais.

 Quantos destes ofendidos não se disseram um dia, em 2015, emocionados, solidários com os cartoonistas assassinados do Charlie Hebdo e usaram, desafiadores à distante ameaça islâmica, o autocolante "Eu sou Charlie"?...

 Que patetas!

 Pedro de Tadeu no Diário de Notícias de hoje.

NOTÍCIAS DO CIRCO

Continuam as manhãs de notícias sempre iguais.

A Polícia Judiciária está a fazer buscas nas sedes do PSD em Lisboa e Porto, em casa de Rui Rio, de alguns funcionários do partido, entre eles Hugo Carneiro, deputado social-democrata que foi responsável pelas contas do partido durante a liderança de Rui Rio.
 Segundo o Público, estará o facto de terem sido pagos ordenados a funcionários do PSD com recurso a verbas da Assembleia da República que seriam exclusivamente destinadas a cargos de assessoria dos grupos parlamentares.

Luís Montenegro ainda não apareceu a botar palavra sobre o assunto, ele que costuma, em outros casos e casinhos , ser tão célere.

Bom Dia Alexandra Alpha:

«Isto não é um país, é um sítio mal frequentado». 

terça-feira, 11 de julho de 2023

ESCRITA DA TERRA

1.

Sê tu a palavra,

branca rosa brava.

2.

Só o desejo é matinal.

Poupar o coração

é permitir à morte

coroar-se de alegria.

4.

Morre

de ter ousado

na água amar o fogo.

Beber-te a sede e partir

– eu, que sou de tão longe.

Da chama à espada

o caminho é solitário.

7.

Que me quereis,

se me não dais

o que é tão meu?

Eugénio de Andrade dee Ostinato Rigore em Poesia

segunda-feira, 10 de julho de 2023

O FECHAR DOS TAIPAIS


 É difícil perceber o que se passa com António Costa. A ideia que o governo transmite é que tanto o primeiro-ministro, como os ministros, como os secretários de estado, andam a escorregar na maionese.

Ana Sá Lopes no Público:

«Quando foi interrogado sobre o caso do secretário de Estado da Defesa suspeito de corrupção, Costa – que na véspera se tinha recusado a comentar a demissão - disse que era preciso deixar a justiça fazer o seu trabalho. Aí, tudo bem.
O problema é o que diz a seguir: “Sem ter que diminuir aquilo que preocupa muito os comentadores e o espaço político, eu sinceramente aquilo que eu sinto que preocupa as pessoas são temas bastante diferentes. Eu ando muito na rua, vou ouvindo o que as pessoas me dizem, e as pessoas dizem-me coisas que têm pouco a ver com esses assuntos.” Segundo o chefe do Governo, a inflação, a melhoria de rendimentos, sim, isso “interessa às pessoas”; a possibilidade de corrupção e da péssima gestão do Estado não interessa a ninguém.
Não se percebe se António Costa teve consciência da enormidade que disse ou se pensa exactamente assim ou se teve um descolamento da realidade similar a um desmaio.

1.

 Em Portugal 210 mil pessoas acima dos 65 anos continuam a trabalhar enquanto 255 mil pessoas têm segundo emprego, o número mais alto dos últimos anos.

2.

De acordo com os dados mais recentes (2020), há cerca de 345 mil crianças em Portugal a viver abaixo do limiar da pobreza.

3.

Em apenas 10 anos a Igreja Católica perdeu perto de 240 mil fiéis, enquanto quase todas as outras crescem, com a Evangélica em destaque. Mas a grande mudança em curso na sociedade portuguesa é o crescimento de quem não professa qualquer religião.

4.

Numa  entrevista à CNN, Joe Biden acusa os ultranacionalistas que actualmente suportam o governo de Telavive, liderado por Benjamin Netanyahu, de serem "parte do problema" do conflito israelo-palestiniano, por aprovarem a instalação de colonos judeus "onde lhes apetece".

POÉTICA

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Manuel Bandeira de Libertinagem em Obras Poéticas

domingo, 9 de julho de 2023

... E SERÁS RECORDADO COMO MERECES!

Aproveito os calores que vão fazendo, nos vão desfazendo, para ir fazendo a poda da jornalada que vou guardando, com boas ideias certamente, mas depois não lembro quais.

Guardei isto para quê?

Aníbal Cavaco Silva, com algum atraso e pedidos de desculpa, escreveu um longo artigo político-filosófico, dando os parabéns a António Costa pela maioria absoluta, recordando também as suas maiorias absolutas, as reformas que promoveu nesses governos e esperando  que o novo executivo faça ainda melhor.

Pedro Garcias, cronista do suplemento Fugas do Público, leu o artigo de Cavaco e apeteceu-lhe recortar:

«Eu li o artigo de Cavaco no computador e, graças a Deus, não senti nada. Apreciei, sobretudo, aquela passagem em que o ex-Presidente da República falou dos jornalistas. “O senhor Primeiro-Ministro sabe que nunca tive jeito ou apetência para a arte de sedução dos jornalistas e que, ainda hoje, muitos deles não gostam de mim, o que nada me incomoda. Esta é uma área em que V. Exa. é, e continuará a ser, muito melhor do que eu”. Aqui, o ex-Presidente da República foi chorinhas mas modesto. Os jornalistas do seu tempo (eu acompanhei-o em algumas visitas a Trás-os-Montes) lembram-se bem de como Cavaco era um querido, mesmo com quem não tinha o famoso “cartão laranja”. E os seus seguranças também eram uns fofos, até bolos nos davam. Cavaco nem devia perder tempo com estes lamentos. Presumo que a mulher o tenha avisado:

- Ó Aníbal, não escrevas essas coisas. Deus é grande e justo e um dia serás recordado como mereces.»

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


 Por vontade própria, o meu pai reformou-se tarde.

Já tinha, há algum tempo, passado os 65 anos, quando colocou um ponto final na carreira de jornalista-gráfico, como gostava de se considerar.

 Passámos, então, a ter um tempo que até aí não existira e, pelo menos, uma vez por mês, arrancávamos para uma jantarada, mais regada do que o resto, que terminava sempre com conversas “non-sense”, que iam desde o marxismo-leninismo ao carrapito da D. Aurora, do Benfica às pernas da Cyd Charisse.

 Por vezes a jantarada era antecedida de sessão de cinema.

 Juntos, vimos, no Fórum Picoas. as Recordações da Casa Amarela do João César Monteiro, - e o que nos divertimos! -, juntos também, (não) vimos no Londres a adaptação cinematográfica da Insustentável Leveza do Ser. Ao fim de vinte minutos de filme, olhou para mim e disse: vamos embora!.

 Apanhámos um táxi para Alcântara e aterrámos no Cuidado Com o Degrau, um restaurante que, penso, já não existe.

 Marxista-leninista convicto, gostava particularmente de Sartre e, e lia-o em francês. O livreiro Carvalho, da Livraria Clássica Editora, nos Restauradores, ao lado do então Cinema Eden, , conseguiu arranjar-lhe os seis primeiros volumes de Situations e sempre disse:

Mais vale estar errado com Sartre do que ter razão com Aron.

 Não admira as cócegas que sentiu vendo o filme saído do livro do Milan Kundera. 

  Pelo meu lado li Sartre, As Palavras é um livro que marcou muito os meus passos, mas sempre fui mais Albert Camus.

 Há dias, ao rever Peggy Sue Casou-se, um filme mal-amado, ou melhor dito: pouco citado,  de Francis Ford Coppola, dono e criador de obras inescapáveis, topei com o diálogo de uma maravilhosa Kathleen Turner com o avô:

 - Avô!

Sabe, quando o senhor e a avó morrerem a família morre convosco. Não voltarei a ver os primos.

 - O “strudel “da tua avó é que mantém esta gente unida.

 - Se pudesse voltar a fazer tudo de novo, avô, que faria de modo diferente?

 - Trataria melhor dos meus dentes

 Este tratar melhor dos dentes, mandou-me para idênticas palavras do meu pai  (estaria a citar Coppola? Não sei!), numa das jantaradas,  quando a conversa  terá entrado pelo velho beco do se eu soubesse o que sei hoje, se voltasse atrás, blá,blá,blá, e ele muito peremptório a afirmar que faria tudo, mas mesmo tudo, o que fizera, com uma única excepção: 

«Trataria melhor dos meus dentes.»

MÚSICA PELA MANHÃ


 Elton John despediu-se ontem à noite dos palcos com um concerto em Estocolmo, no qual agradeceu a todos por "52 anos de pura alegria a tocar música".

Elton tem 76 anos, mais de 50 anos de carreira, 4.600 actuções por todo o mundo e fechou o concerto cantando  Goodbye Yellow Brick Road.

sábado, 8 de julho de 2023

VELHOS RECORTES


 Ao longo dos anos em que por este Cais ando, uns disparatados 13 anos!... tenho dito que gosto de crónicas de jornais porque sou do tempo tempo em que havia jornais/jornais e os escrevinhadores eram gente de eleição.

Encontrei este velho recorte que regista a morte de João Carreira Bom.

Andou por vários jornais e revistas e a morte apareceu-lhe tinha ele crónica no «Diário de Notícias».

Esta é a homenagem que os camaradas lhe prestaram.

POR UMA CERTA MEMÓRIA


Há um estudo que mostra que a quantidade de informadores da PIDE era tão grande que quase metade da população portuguesa era constituída por informadores. Muitos ainda andarão por aí.

A maior parte seria salazarista, mas outros actuaram como vingança sobre pessoas de que não gostavam: vizinhos, familiares.

As denúncias dos informadores levaram à prisão pessoas que nada tinham a ver com nada, mas outros redundaram  na prisão de militantes que lutavam pela Liberdade e acabaram por ser julgados nos Tribunais Plenãrios.

O poema reproduzido acima é da autoria de José Carlos de Vasconcelos e pertence ao livro «Poemas Para a Revolução». O poeta lembra os juízes dos tribunais plenários, e pergunta: «que direis no dia do vosso julgamento?»

Nada disseram porque deles não se fez qualquer julgamento.

Deles, dos pides, de todas as ratazanas que, durante, perto de meio século, nos infernizaram a vida.

Provavelmente, muitos deles continuaram, não naquelas funções, mas noutras, as suas vidinhas na justiça. Hoje, por ventura, ainda gozam chorudas reformas, bons carros, casas na praia, nada lhes perturba o sono pela simples razão de não serem gente… apenas isso…

Como puderam estes abutres julgar homens?

Homens que apenas lutavam por um país limpo.

Que foi feito dos abutres?

Sim, somos homens de justiça e não de vingança, mas foi um crime deixá-los impunes!

As sombras que envolvem, hoje, a nossa justiça, tiveram gente desta como eventuais mentores, disciplinadores.

A perpetuação da ditadura verificou-se, durante tanto tempo, porque muitas foram as instituições que a protegeram: forças armadas, pide, censura, tribunais plenários.

E o medo, sim o medo.

Era terrível a nossa vida, mas grande parte da população, com a sua inércia, com o seu medo, permitiu que aqueles monstros sobrevivessem, se multiplicassem.

TAL COMO ELE É

«Desejo, pois ser ignorado. Se, ainda assim, alguém quiser prestar-me atenção, pela minha parte não prestarei atenção àqueles que prestam atenção. A escrita dos meus livros anteriores não foi forçada. Creio que escrever muito não garante uma escrita de qualidade. E não me venham falar dos «primeiros livros»! Que estes não sejam sobrevalorizados e que se tente compreender o Walser vivo, tal como ele é.»

Robert Walser em Cinza, Agulha, Lápis e Fosforozitos

sexta-feira, 7 de julho de 2023

POSTAIS SEM SELO


 «Creio que escrever muito não garante uma escrita de qualidade.»

 Robert Walser em Cinza,Agulha, Lápis e Fosforozitos

 Legenda: Pormenor da capa de Cinza, Agulha, Lápis e Fosforozitos, pintura de Cornelis Norbertus Gijsbrechts.