terça-feira, 24 de setembro de 2024

COMEÇOS DE LIVROS

A Morte É Um Acto Solitário de Ray Bradbury

É um maravilhoso começo de livro

«Veneza, na Califórnia, tinha, nos velhos tempos, muito que a pudesse recomendasse a quem gostasse de estar triste. Era o nevoeiro quase todas as noites, e era, ao longo da costa, o gemer das máquinas nos poços de petróleo, e o bater da água suja nos canais, e o zumbir da areia a roçar as vidraças, quando o vento assobiava à volta das praças e ao longo das ruas desertas.

Era no tempo em que o pontão de Veneza, a cair aos bocados, morria no mar. E podia ver-se então gigantesca ossada de dinossauro, a montanha-russa, a coberto ou a descoberto, com o vaivém das marés.

No fim de um longo canal, viam-se as caravanas de um circo, decrépitas, para lá atiradas e abandonadas. E quem olhasse para as jaulas, à meia-noite, veria que lá dentro havia vida – peixes e camarões de ´+agua doce, que andavam ao sabor da maré. E tudo isto, afinal, era o circo do tempo, feito ruína, desfazendo-se em ferrugem.»

Quantos anos? Depois continuamos a recordar quem não queremos esquecer.

«Tenho tudo em meio e já não me restam muitos anos para acabar o que está e há-de vir.»

Mário Sacramento

«Morrer era agora minha liberdade, e eu tinha a vida inteira para executá-la

pormenorizadamente.»

Herberto Helder

Há dois géneros de pessoas: as que acham que tudo se passa no principio e as que acham que tudo se passa no fim. Foi isso que T.S. Eliot sobre isso escreveu: «In my beginning is my end».

Ou como diria o vagabundo no bar irlandês, acabando a última Pin:

Life is a bitch… and then you die.

Miguel Torga diz que o homem é em si uma solidão:

«Nascemos sós, vivemos sós, morremos sós.»

Uma prosa existente na papelada da casa e que não consegue saber o autor, ou os papéis de onde copiou, num guardanapo de café de bairro, a citação:

«Todos devemos deixar qualquer coisa atrás de nós, ao morrermos, dizia o meu avô. Um filho, um livro, um quadro, uma casa, uma parede ou um par de sapatos. Ou ainda um jardim plantado de flores. Qualquer coisa que a mão tocou e para onde irá a alma no instante da morte, E quando as pessoas olharem essa árvore ou essa flor que plantámos nós, estamos lá, sob os seus olhos.»

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