A Morte É Um Acto Solitário de Ray Bradbury
É um maravilhoso começo de livro
«Veneza, na Califórnia, tinha, nos velhos tempos,
muito que a pudesse recomendasse a quem gostasse de estar triste. Era o
nevoeiro quase todas as noites, e era, ao longo da costa, o gemer das máquinas
nos poços de petróleo, e o bater da água suja nos canais, e o zumbir da areia a
roçar as vidraças, quando o vento assobiava à volta das praças e ao longo das
ruas desertas.
Era no tempo em que o pontão de Veneza, a cair aos
bocados, morria no mar. E podia ver-se então gigantesca ossada de dinossauro, a
montanha-russa, a coberto ou a descoberto, com o vaivém das marés.
No fim de um longo canal, viam-se as caravanas de um circo, decrépitas, para lá atiradas e abandonadas. E quem olhasse para as jaulas, à meia-noite, veria que lá dentro havia vida – peixes e camarões de ´+agua doce, que andavam ao sabor da maré. E tudo isto, afinal, era o circo do tempo, feito ruína, desfazendo-se em ferrugem.»
Quantos anos? Depois continuamos a recordar quem não queremos esquecer.
«Tenho tudo em meio e já não me restam muitos anos
para acabar o que está e há-de vir.»
Mário Sacramento
«Morrer era agora minha liberdade, e eu tinha a vida
inteira para executá-la
pormenorizadamente.»
Herberto Helder
Há dois géneros
de pessoas: as que acham que tudo se passa no principio e as que acham que tudo
se passa no fim. Foi isso que T.S. Eliot sobre isso escreveu: «In my beginning
is my end».
Ou como diria o
vagabundo no bar irlandês, acabando a última Pin:
Life is a bitch… and then you die.
Miguel Torga diz
que o homem é em si uma solidão:
«Nascemos sós, vivemos sós, morremos sós.»
Uma prosa existente na papelada da casa e que não consegue saber o autor, ou os papéis de onde copiou, num guardanapo de café de bairro, a citação:
«Todos devemos deixar qualquer coisa atrás de nós, ao
morrermos, dizia o meu avô. Um filho, um livro, um quadro, uma casa, uma parede
ou um par de sapatos. Ou ainda um jardim plantado de flores. Qualquer coisa que
a mão tocou e para onde irá a alma no instante da morte, E quando as pessoas
olharem essa árvore ou essa flor que plantámos nós, estamos lá, sob os seus
olhos.»
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