Em Junho, Mia Couto venceu o Grande Prémio de Conto Branquinho da Fonseca da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro «Compêndio para Desenterrar Nuvens.»
António Rodrigues, a propósito deste novo prémio de
Mia Couto, para o Público de 30 de
Agosto, suplemento Ipsilon, realizou uma excelente entrevista com o escritor
moçambicano.
«Fico sempre surpreendido quando ganho
um prémio. Não é coisa de falsa modéstia, mas sinto-me bem não tendo essa
expectativa de poder ganhar, senão o prazer de fazer o livros e de escrever.»
António Rodrigues pergunta a Mia Couto:
Já sabe como vai gastar o dinheiro do prémio? Tem algumas dívidas para pagar?
«Quando se trata de dinheiro, sou péssimo. E sou péssimo, porque, felizmente, tenho algum privilégio, olhando para o mundo e para a maior parte das pessoas, para quem o dinheiro é uma preocupação do quotidiano. Não sendo rico, não tenho, nunca tive essa preocupação. Acho que se fosse mais pobre também não teria, porque eu via pelos meus pais, que não era gente que vivia de maneira folgada, antes pelo contrário, que ali faziam-se contas, mas o meu pai, que era poeta, nunca as fez. Era a minha mãe que controlava esse lado da vida. Eu herdei um pouco do meu pai esta coisa de estar desamarrado, e é um grande privilégio.»
Como já disse: uma excelente entrevista e um tempinho ainda para o seu final:
«Para
terminarmos, e como diz que a sua linguagem é a linguagem da poesia, gostava de
lhe perguntar: qual foi o seu verso mais conseguido?
Não lhe sei responder, mas o primeiro poema que fiz foi ao meu pai e, mais
tarde, quando o meu pai morreu, despedi-me dele por via da poesia e percebi que
tinha voltado a um verso feito 40 anos antes e que falava dessa criatura que
vivia numa varanda como se vivesse num palácio. Como não sabia o que fazer com
ele próprio, ficava ali com as mãos estendidas como se recolhesse esse orvalho
que imaginava estar a tombar do céu. O verso não é exactamente esse, mas isso
perseguiu-me como a grande lição do meu pai: dar importância àquilo a que
ninguém ligava. O meu pai, no meio da guerra colonial, andava à procura de
pedrinhas e sementes e olhava os pelicanos que passavam. Ensinou-nos a ver o
que não tinha importância para os outros».
1.
Em apenas três dias,
2024 tornou-se o quarto pior ano da década em área ardida.
Do Público de 18 de Setembro
2.
No seu programa
da SIC intitulado Conversas Secretas, o escritor Baptista-Bastos popularizou a pergunta
«onde é que você estava no 25 de Abril?». Esta pergunta foi o ponto de
partida para a Fundação José Saramago que, no quadro das comemorações dos 50
anos da Revolução de Abril, inverteu a questão e lançou um ciclo de conversas
com o mote «Onde estarias se não fosse o 25 de Abril?».
1 comentário:
MIA COUTO-gosto dele como pessoa e como escritor, grande escritor -um mago das palavras-!
Tive oportunidade de falar com ele numa Feira do Livro e senti que estava perante uma grande pessoa.
Como escritor é fantástico, vale a pena ler (já devo ter lido 50% dos seus livros publicados.)
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