«A cidade no verão tem menos carros. Mas os “menos” carros são ainda muitos carros demasiados carros.
Seria interessante fazer-se um cálculo
simples, que talvez exista já, mas que não conheço. El alguma cidades, calcular
o espaço público disponível – estradas, passeios, jardins, etc. – e perceber
qual a percentagem ocupada por pessoas.
E uma pergunta ainda. Não sobre carros,
mas sobre algo bem mais sério.
Há uma tragédia recente, inaceitável,
que em poucos anos, se tornou quase parte da paisagem social. – paisagem, ou
seja, algo a que quase já não se dá atenção.
O emprego sempre foi historicamente
aquilo que tirava as pessoas da pobreza. Não ter emprego implicava o risco de cair
no total desamparo. Ter emprego era o objectivo, a salvação.
É muito recente este facto, que é dinamite
social: muitos hoje têm emprego e são pobres. Ter emprego já não significa sair
da pobreza. Hoje há pessoas com emprego que são sem-abrigo. Isso mesmo. Vão
trabalhar e regressam depois à rua, para dormir.
Como se chegou aqui?»
Gonçalo M. Tavares, de uma crónica no Expresso, 6 de Setembro de 2024.
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