segunda-feira, 30 de setembro de 2024

OLHAR AS CAPAS


A Funda

4º Volume

Artur Portela Filho

Carta-Posfácio: Norberto Lopes

Capa: Guilherme Prosperi

Editora Arcádia, Lisboa, Abril de 1974

Era o filho pródigo do Regime.

Fizera, no Direito, a ideologia, a família moral, o destino histórico.

Estava talhado, calibrado, destinado.

Não era um acidente - era uma raça.

Tinha, sobre a cabeça, a estrela. Na fronte, o halo. No olhar, a certeza. No sorriso, a sorte.

E quando passava, nos corredores pombalinos do poder, soltando a sua risada aguda, o seu gesto largo, todos os barões, acercando, cochichadamente, as cabeças, o seguiam com um olhar terno.

Era Marcello.

Era Rebello.

Era De Souza.

E, excessivamente, Nuno.

Foi o escândalo.

Foi o escândalo quando ele, recusando sob Martinez, a reprise, rechaçando, sob Dias Rosas, a tarimba, apareceu por sobre o ombro Pestana & Brito de Francismo Balsemão, a espreitar.

Era a fronda do Expresso.

Não quiseram crer. 

E, no entanto, era bem ele, a vivacidade Tim-Tim, a barba Trotsky, o olhar Harold Loyd.

E o riso fácil, a voz estaladamente metálica, a inteligência extravasante, o brilho incontrolado.

O próprio excesso.

O Regime empalideceu.

A Esquerda riu. E a 3ª Força, ela mesmo, sentiu, naquele Gotha revoltado, naquela lei de  Mendel às avessas, naquela Divisão Azul, um compromisso, uma má consciência, um lastro, uma trela.

Um chumaço.

Uma bala de madeira.

Uma injustiça.

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