Realmente continuava muito chateado e decidiu sair de Carcavelos, onde vivia, para o Hospital de Cascais onde veio a morrer no dia 9 de Janeiro de 1980.
Os médicos disseram que morreu de degenerescência óssea, ou de muito viver , como disse o Fernando Assis Pacheco, ou de fome, como disse alguém mais drástico.
É bem provável. Quatro anos antes, numa entrevista em “O Diário”, dizia:
“Será que têm medo que os comunistas comam criancinhas fritas. Não têm. Bom, tomara eu, agora, que há que tempos não entra um bocado de carne cá em casa… Há muito tempo, pá…
“Será que têm medo que os comunistas comam criancinhas fritas. Não têm. Bom, tomara eu, agora, que há que tempos não entra um bocado de carne cá em casa… Há muito tempo, pá…
Antes já tinha, surrrealisticamente, perguntado ao Ruy de Lemos:
“Ruy, gostava que me dissesses se ainda há gente que come. Deve ser divertido.”
“Ruy, gostava que me dissesses se ainda há gente que come. Deve ser divertido.”
Fosse como fosse, partiu
Chateado, como sempre
Ao que parece, ainda gritou: “Viva o Gin!”, e eu acredito porque ele dizia sempre que o último gin é mesmo na hora da morte.
Já ninguém se lembra do Mário-Henrique Leiria.
O costume!.
Ida Sem Volta
“Acordar na cidade logo de manhã
e esperar a noite com exactidão
no encontrar do último comboio
que parte conciso para outro dia
sair na estação que é central
de outra cidade já a anoitecer
onde talvez seja o lugar habitual
do vendedor ambulante das sortes
quase grandes
no caminho designadamente antecipado
pelo voo dos pássaros migradores
que agora mesmo se vão de partida
para outra cidade de amanhecer definitivo
e depois da viagem sempre conhecida
da porta em porta na cidade
adormecer ao aviso da madrugada
e esperar o sinal propício indicado
pelo caminho persistente dos peixes
a subir o rio exaustivamente nele
acordar na noite da outra cidade
até chegar o momento muito matinal
de partir no primeiro comboio efectivo
da manhã de outra cidade a entardecer”
Dos “Contos do Gin-Tonic”
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