sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

RESTOS DE NATAL


Quando as árvores de Natal, não eram de plástico, made in China, no dia a seguir aos Reis, as ruas enchiam-se de pinheiros, alguns ainda com pedaços de algodão ou uma qualquer fita colorida, agarrados.

Nesse dia a Câmara de Lisboa fazia uma recolha extra desses restos de Natal.

José Gomes Ferreira, no 4º volume dos seus “Dias Comuns”, conta:

“Como de costume por esta altura do ano, depois dos Reis, as ruas apareceram juncadas de árvores de Natal – belo material verde para brincadeiras de miúdos aos saltos nos passeios…
Esta manhã alguns rapazinhos e raparigas, perto da Editorial, ergueram uma espécie de cabana onde se aninharam em intimidades de sexo inocente.
Olhei-os com inveja, a sentir o gozo (recordar é isso) de certas tardinhas secretas em que também me recolhia em edificações semelhantes construídas com tábuas podres e chapas de zinco, a ouvir o bater regalado da chuva…
Uma mamã chama da janela:
- Ó Carlitos: vem almoçar!
Ao longe, muito ao longe, a voz sumida da minha mãe chamava num passado de gritos:
- Ó Zeca! Ó Zeca! Vem para casa!”

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