segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

PRESIDENCIAIS 2011


Isto dá vontade de morrer, disse um dia Alexandre Herculano e refugiou-se em Vale de Lobos.

Aquele-enfim-que-já-toda-a-gente-sabia-que-ia-ganhar-pelo-que-ficamos-sempre-a-pensar-para-quê-gastar-dinheiro-com-eleições, foi eleito por 2.230.240 de portugueses (52,94%).

Manuel Alegre: 832.021 votos

Fernando Nobre: 593.886 votos (14,1%)

Francisco Lopes: 300.845 votos (7,14%)

José Coelho 189.351 votos (4,5%)

Defensor Moura: 66.092 votos (1,5%)

Decidiram não se chatear com estas coisas 5.139.483 portugueses (53,37%).

Foram às urnas depositar o voto, mas deixaram-no em branco 191.167 portugueses (4,26%).
Por motivos diversos foram escrutinados 86.545 votos nulos (1,93%).

O cineasta João Botelho disse que o voto, sendo um dever, será um céptico, um melancólico, um doloroso dever”, a também cineasta Teresa Vilaverde, disse ter “dificuldade em compreender o desejo de ser Presidente da República e talvez por isso tenha tendência para desconfiar de quem tem essa vontade”, o encenador Jorge Silva Melo desabafou “uma enorme apatia, uma pergunta amarga (para que serve um Presidente da República?) e outra ainda (é um super-primeiro-ministro?) ou outra dúvida (é só um despede-governos?), um total desinteresse, um esvaziamento da política, um ror de palavras sem nexo ("interventivo", "sério", "patriótico", "honesto", "cidadania"...), para mim uma enorme tristeza. E a sensação bem azeda de que tudo é igual ao igual e volta o mesmo”.

Não me apetece falar da eleição presidencial, aliás, de coisa nenhuma.  Apanhei, por aí ,algumas palavras sobre o que ontem se passou, e vou deixá-las aqui.

Hugo Von Hofmannsthal deixou escrito no seu “Livro dos Amigos” que “muita coisa não se ousa porque parece difícil, mas muita coisa só parece difícil porque não se ousa.!"

É, no mínimo angustiante, sentir os desencontros da(s) esquerda(s). Estavam os bárbaros às portas de Bizâncio e lá dentro discutia-se o sexo doa anjos.

O “Guronsan” pela manhã não foi suficiente para limpar a ressaca.

“Mário Soares foi o vencedor das eleições. A astúcia e a imaginação do velho estadista permitiram que Fernando Nobre, metáfora de uma humanidade sem ressentimento, lhe servisse às maravilhas para ajustar contas. É a maior jogada política dos últimos tempos. Um pouco maquiavélica. Mas nasce da radical satisfação que Mário Soares tem de si mesmo, e de não gostar de levar desaforo para casa. Removeu Alegre para os fojos e fez com que Cavaco deixasse de ser tema sem se transformar em problema. O algarvio regressa a Belém empurrado pelos acasos da fortuna, pelos equívocos da época, pelo cansaço generalizado dos portugueses e pelos desentendimentos das esquerdas (tomando esta definição com todas as precauções recomendáveis).”

Baptista-Bastos, “Diário de Notícias”

“Numa altura em que os partidos muitas vezes são parte do problema e não da solução há hoje cada vez mais espaço para candidaturas de cidadania, emergentes da sociedade civil.”

Pedro Correia em “Delito de Opinião”

"Todo o Partido Socialista esteve ao lado de Manuel Alegre."

José Sócrates, enquanto secretário-geral do Partido Socialista

"Os portugueses falaram e exprimiram com clareza o que queriam. É legítimo dizer dizer que os portugueses optaram por não mudar. Optaram pela continuidade e estabilidade política. Esta tem sido a regra em presidenciais".

José Sócrates enquanto primeiro-ministro

“A reeleição de Cavaco Silva é uma vitória em toda a linha da pandilha do BPN, das offshore, da fuga ao fisco, da informação privilegiada, das acções da SLN. É disso que os portugueses gostam. O país provinciano, pacóvio e ignorante dos economistas espertalhaços, dos empresários amigos, das urbanizações para coelhos e dos terrenos fantasiosos, ganhou novo fôlego e voltará a prosperar. O resultado liberta Oliveira e Costa para poder dizer no julgamento que agora começa o que muito bem entende, para defender o canastro sem correr o risco de ser visto como um revanchista. Vamos a ver se Cavaco Silva e associados dentro de quatro anos estarão tão satisfeitos como hoje.”

João Carvalho no Delito de Opinião”

“Fora isso, tudo correu com "normalidade" absoluta: menos de metade dos portugueses quis e conseguiu votar e elegeu um presidente da República pela confortável maioria absoluta de... um quarto do total de eleitores.”

Manuel António Pina no “Jornal de Notícias”
                                                          
“Este homem não é o presidente dos portugueses.
Este homem foi eleito com 54% de abstenção.
Este homem não tem estatura para o cargo que desempenha: note-se que foi o único político desta noite que não saudou, cumprimentou nem felicitou nenhum dos adversários, competidores e respectivos espaços políticos. Antes os insultou, denegriu ostensivamente!
Não se trata aqui de cumprimentos de circunstância – não os aprecio igualmente.
Trata-se de dizer, como ele disse, que não esquecia (mas o quê??), de dizer que intenta marcar quem contra ele está e usou determinados argumentos (era o que faltava, não era, exigir escolher o tipo de argumentos dos adversários?…).
Trata-se de dizer que sabe apontar com o dedo.
Certeiro. Com pontaria. E total precisão. Que seja feliz. Que eu não sou, nem fico”.

 Carlos Vidal  no “5 Dias”

Legenda: Fotografia de Andre Kastienetz

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