O "sensato" conselho de Cavaco Silva para comermos e calarmos de modo a que "os nossos credores" não se zanguem connosco e nos castiguem com juros cada vez mais altos espelha uma cultura salazarenta de conformismo que, sendo muito mais antiga que Cavaco, ele representa na perfeição, até nos seus, só na aparência contraditórios, repentes de arrogância.Quando Cavaco nos recomenda que amouchemos pois "se nós lhes [aos 'nossos credores'] dirigirmos palavras de insulto, a consequência será mais desemprego para Portugal", tão só repete, adaptada à actual circunstância, a "sensata" e canónica fórmula do "Manda quem pode, obedece [ no caso, cala] quem deve".Trata-se de uma atávica cultura em que a vida é vidinha, a crítica deve sempre ser "construtiva" e colaborante, os trabalhadores, por suave milagre linguístico, se tornam "colaboradores" (e se colaboracionistas melhor ainda) e servilismo e acriticismo são alcandorados a virtudes cívicas. Porque é assim que se faz pela vidinha, de joelhos.
Estejamos, portanto, gratos às "companhias de seguros, fundos de pensões, fundos soberanos, bancos internacionais e cidadãos espalhados por esse mundo fora" que nos emprestam dinheiro a juros usurários, pois eles apenas querem o nosso bem. E, como o bom Matateu numa famosa entrevista a Baptista Bastos, digamos tudo o que quisermos, excepto dizer mal, "porque [cito de cor] Matateu não diz mal de ninguém".
Manuel António Pina no “Jornal de Notícias”
CAVAQUICES
"Não podemos excluir a possibilidade de uma grave crise em Portugal, não apenas económica e social, mas também política".
"Portugal não pode dispensar um Presidente da República com os conhecimentos necessários para responder à crise".
"É preciso um Presidente que conheça bem o sistema político",
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