domingo, 7 de dezembro de 2014

POEMA DA MORTE APARENTE


Nos tempos em que acontecia o que está acontecendo agora,
e os homens pasmavam de isso ainda acontecer no tempo deles,
parecia-lhes a vida podre e reles
e suspiravam por viver agora.
A suspirar e a protestar morreram.
E agora, quando se abrem as covas,
encontram-se às vezes os dentes com que rangeram,
tão brancos como se as dentaduras fossem novas.

António Gedeão

Nota do editor: No seu livro de ensaios Na Senda da Poesia, Ruy Belo debruça-se sobre as Poesias Completas de António Gedeão.com prefácio de Jorge de Sena.
Ruy Belo refere este poema em particular:


Quase no final da colectânea surge-nos o Poema da Morte Aparente, uma das melhores obras de António Gedeão, que mereceu a Jorge de Sena uma análise de texto em que ele é mestre.

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