sábado, 2 de maio de 2015

O FINAL DA GUERRA EM LISBOA, 1945


Não houve qualquer meio de impedir os portugueses de, nos primeiros dias de Maio de 1945, virem para as ruas, euforicamente, festejar a vitória dos aliados face à besta nazi.

Tão pouco isso interessava aos propósitos de hipocrisia neutral de Salazar.

Por isso as tolerou.

Sempre esteve com Deus e com o Diabo.

Tinha eu pouco mais de um mês de vida, mas por esses dias por estas ruas, lá andaram o meu avô e o meu pai.

O meu avô contava que, nas ruas, apareceram bandeiras portuguesas, britânicas, norte-americanas, francesas e… bandeiras do Benfica, habilidade, contava ele, utilizada para representarem a bandeira da União Soviética.

Numa entrevista, de que não tenho indicação de nome e data do jornal, José-Augusto França confirma a versão do meu avô:

Mais tarde, soube que por cá os meus amigos tinham andado em grandes festas e que se fizeram manifestações a festejar a vitória dos aliados, apareceram uns paus sem bandeira e até bandeiras do Benfica. Eram, evidentemente, a homenagem aos aliados soviéticos, cujo nome não podia ser mencionado

José Gomes Ferreira, em Intervenção Sonâmbula, também refere o episódio:

No entanto, o povo berrava nas ruas a sua alegria com lágrimas e bandeiras (muitos empunhavam apenas paus nus com imaginárias bandeiras vermelhas da pátria dos sovietes), ainda com alguns ingénuos a quererem convencer-se de que a mágica queda do salazarismo aconteceria no dia seguinte.

Quem não dançou, quem não cantou, quem não soltou vivas e morras nessa noite? Mas entre aqueles milhares e milhares de pessoas, recordo-me sobretudo – é curioso como certas imagens sobrenadam na memória em detrimento de outras – recordo-me do Fernando Lopes Graça então 30 anos mais novo, a mancar, com os pés doridos de tanto marchar pelas pedras de Lisboa


No prédio onde está o British-Bar, em Março de 1945 içaram-se as bandeiras portuguesa, britânica e norte-americana.


Legenda: fotografia da Fundacionmapfre

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