sábado, 6 de agosto de 2016

HÁ 50 ANOS


A ponte sobre o Tejo foi inaugurada há 60 anos.

Ficou a chamar-se Ponte Salazar.

Hoje, chama-se Ponte 25 de Abril.

O ditador nunca concordou com a obra e nem por escassas horas um dia se dignou visitar as obras.

Passou a ser a maior ponte suspensa da Europa e a maior do Mundo fora dos Estados Unidos.


Segundo previsões, moderadas, da altura a ponte renderia cem mil contos por ano.
Nos primeiros dois dias não foram cobradas portagens.

Um automóvel vulgar pagava vinte escudos de portagem e uma camioneta cem escudos.


O general França Borges, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, discursando no dia da inauguração:

Porque não foi possível verificar então a realização desta e de tantas outras obras notáveis, no nosso tempo?

A resposta é simples e clara: anteriormente à Revolução Nacional não foi possível realizar obra construtiva porque Salazar não existia. No nosso tempo tudo foi possível porque Salazar existe.
Na verdade o Tejo, a velha estrada de Lisboa, tem razão para gritar connosco:

- Muito obrigado Professor Salazar por nos ter dado também a Ponte Salazar.

Ouviu.se a Aleluia de Haendel, o Cardeal Cerejeira abençoou a ponte, a Rádio Televisão Portuguesa transmitiu a cerimónia, o ditador Franco enviou ao Almirante Tomás, um telegrama:

Ao inaugurar-se grandiosa obra ponte sobre o Tejo envio Vossa Excelência minhas mais entusiásticas felicitações.

A fotografia mostra a afluência de veículos na Praça da Portagem, nas primeiras horas da madrugada do dia seguinte à inauguração

Foi este o programa dos festejos:

Sábado, dia 6

10,30 horas – Cerimónia da inauguração da Ponte
13,00 horas – Chegada do Cortejo que acompanha Sua Excelência o Chefe do Estado à Praça Afonso de Albuquerque e desfile em frente ao Palácio de Belém.

A ponte ficará aberta ao tráfego a partir das 13,30 horas

00,30 horas – Fogo de artificio no rio e nas colinas da margem sul.

Domingo, dia 7

09,00 horas – Regatas de remo e vela, provas de natação na área compreendida entre a
Ponte e a doca de recreio em Belém, Porto Brandão e Trafaria.
10,00 horas – Missa campal no Santuário de Cristo-Rei
19,30 horas – Tourada de gala na Praça Carlos Relvas, em Setúbal.
21,30 horas – Iluminações Públicas e arraiais em Lisboa, Setúbal e Almada.


Não constava do programa oficial, mas na segunda-feira dia 8, o Ministro das Obras Públicas ofereceu uma recepção de gala no Palácio Nacional de Queluz a que estiveram presentes o Chefe de Estado, sua esposa e o Presidente do Conselho.
Tudo muito bem-disposto, como se vê pela fotografia. Atrás das citadas personalidades, em pleno Agosto, as madamas de peles.

Da reportagem do Notícias de Portugal:

A auto-estrada é atingida às 13,30. Aí o cortejo desmembra-se. O Almirante Américo Tomás dirige-se para o Palácio de Belém e o Presidente do Conselho ruma ao Estoril.

Destaco o pormenor: o Presidente do Conselho ruma ao Estoril.

De facto, Salazar passava os primeiros dias de Agosto no Forte de Santo António.

Foi aí, que no dia 3 de Agosto de 1968, mandou-se para uma cadeira de lona e acabou estatelado no lajedo.

Não mais recuperaria da pancada que sofreu na cabeça, e até à sua morte em 27 de Julho de 1970, viveu rodeado de um deplorável teatro de fingimento e hipocrisia. 

Legenda: recortes e fotografias tirados do Notícias de Portugal nº 1006 de 13 de Agosto de 1966.

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