Cálamo
Walt Whitman
Versão e
notas de José Agostinho Baptista
Edição
bilingue
Capa: Ilda
David
Colecção
Gato Maltês nº 8
Assírio e
Alvim, Lisboa, Setembro de 1984
Quando soube ao fim do dia que o meu nome fora aplaudido no capitólio, mesmo assim nessa noite não fui feliz,
E quando me embriaguei ou quando se realizaram os meus planos, nem assim fui feliz,
Porém, no dia em que me levantei cedo, de perfeita saúde, repousado, cantando e aspirando o ar fresco de outono,
Quando, a oeste, vi a lua cheia empalidecer e perder-se na luz da manhã,
Quando, só, errei pela praia e nu mergulhei no mar e, rindo ao sentir as águas frias, vi o sol subir,
E quando pensei que o meu querido amigo, meu amante, já vinha a caminho, então fui feliz,
Então era mais leve o ar que respirava, melhor o que comia, e esse belo dia acabou bem,
E o dia seguinte chegou com a mesma alegria e depois, no outro, ao entardecer, veio o meu amigo,
E nessa noite, quando tudo estava em silêncio, ouvi as águas invadindo lentamente a praia,
Ouvi o murmúrio das ondas e da areia como se quisessem felicitar-me,
Porque aquele a quem mais amo dormia a meu lado sob a mesma manta na noite fresca,
Na quietude daquela lua de outono o seu rosto inclinava-se para mim,
E o seu braço repousava levemente sobre o meu peito – nessa noite fui feliz.
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