A História Me Absolverá
Fidel de
Castro
Tradução e
introdução: Carlos Grifo
Capa: J.C.
Colecção
Perspectivas nº 25
Chego agora ao final da minha defesa mas não
a acabarei, como os advogados geralmente fazem, pedindo que os acusados sejam
libertos. Não posso pedir liberdade para mim enquanto os meus camaradas sofrem
na ignominiosa da Ilha dos Pinheiros. Enviai-me para lá, para que me junte a
eles e partilhe do seu destino. É compreensível que os homens honestos sejam
mortos ou presos numa República em que o Presidente é um criminoso e um ladrão.
Para vós, Meretíssimos Juízes, a minha
sincera gratidão por me haverdes permitido exprimir-me, livre de desprezíveis
destrições. Não guardo amargura contra vós e reconheço que, em certos aspectos,
tendes sido humanos. Sei que o Presidente deste Tribunal. Homem de uma
impecável visa privada, não consegue disfarçar a sua repugnância perante o
corrente estado de coisas que o obriga a tomar decisões injustas.
Mas um problema mais sério está ainda para
resolver nesta sessão: as decisões a tomar quanto ao assassinato de setenta
homens, ou seja, quanto ao maior massacre que jamais conhecemos. Os culpados
continuam em liberdade e de armas na mão – armas que contìnuamente ameaçam os
cidadãos. Se todo o peso da lei não cai sobre os culpados, por causa da
cobardia ou do domínio sobre os tribunais, e se, em tal caso, todos os
magistrados e juízes se não demitirem, causais-me pena. E lamento a vergonha
sem precedentes que recairá sobre o poder jurídico.
Sei que estar na prisão será, para mim, tão
duro como alguma vez o foi para alguém, rodeado de ameaças cobardes e perversas
torturas. Porém, não temo a prisão, tal como não temo a fúria do miserável tirano
que roubou as vidas a setenta dos meus camaradas.
Condenai-me. Isso não importa. A História me
absolverá.
Nota do
editor: A História Me Absolverá é o
texto da alegação dirigida por Fidel de Castro ao Tribunal que o julgou, à porta
fechada, após o insucesso da sua primeira insurreição, em 26 de Julho de 1953,
contra o regime de Batista.
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