Em Maio de
1967 o poeta soviético Evtuchenko esteve em Portugal.
Muitos de
nós embarcámos no canto de sereia.
José Gomes
Ferreira foi um dos que não foi em cantigas.
Exactamente em
1967, José Gomes Ferreira entendeu escrever poemas no quarto do filho Alexandre.
Escreveu apenas duas poesias incluídas em A Poesia Continua.
E anotou:
A segunda criticava um bom poeta soviético,
então de visista a Portugal – Ievtuchenko – que caíra, por inadvertência ou
ignorância dos truques fascistas, na armadilha de se deixar fotografar por
debaixo de um galo, espécie de brasão do S.N.I. Não pôde com certeza evitá-lo,
o poeta.
É este o
poema:
Meu filho, queres saber
porque recusei fazer o papel de paisagem
e não entrei no elenco
da farsa que houve aí de homenagem
a Ievtuchenko?
Primeiro: porque já estou velho para pagem.
Depois, porque quase chorei quando vi
que foram fotografá-lo
debaixo do galo
do S.N.I.
Ah! Ievtuchenko,
que pensarão das tuas fotografias
e desse galo torto
(que tão bem te define)
as raivas do coração fundo
dos presos de Caxias!
E Lenine?
Que pensará o camarada Lenine
que - sabias? -
até depois de morto
fez a revolução no outro mundo?
Conclusão, meu rapaz:
nunca queiras ser cartaz.
porque recusei fazer o papel de paisagem
e não entrei no elenco
da farsa que houve aí de homenagem
a Ievtuchenko?
Primeiro: porque já estou velho para pagem.
Depois, porque quase chorei quando vi
que foram fotografá-lo
debaixo do galo
do S.N.I.
Ah! Ievtuchenko,
que pensarão das tuas fotografias
e desse galo torto
(que tão bem te define)
as raivas do coração fundo
dos presos de Caxias!
E Lenine?
Que pensará o camarada Lenine
que - sabias? -
até depois de morto
fez a revolução no outro mundo?
Conclusão, meu rapaz:
nunca queiras ser cartaz.
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