sexta-feira, 5 de agosto de 2016

OLHAR AS CAPAS


O Homem em Ponto

Baptista- Bastos
Capa: João Botelho
Relógio d’Água, Lisboa. Abril de 1984


Todos os livros são datados; quero dizer: devolvem, fragmentariamente embora, a imagem das épocas em que foram redigidos. Este não escapa à regra: assume-a e exige-a, ao contrário de outros, que, um tanto grotescamente, aspiram à pretensa intemporalidade de horizontes improváveis e imponderáveis. Precário e transitório, como tudo o que é humano, reflecte uma particular atmosfera mental portuguesa, e, sem a ambição de extenuar a História, fixa um determinado comportamento plural, através das singulares palavras dos outros e das peculiares situações de momento. Estas entrevistas (mais cinquenta) foram publicadas no semanário O Ponto, nascido de um singelo sonho de liberdade e acalentado por um grupo de jornalistas que de seu só possuía a honra jamais hipotecada e a ingénua convicção de que as palavras (sempre de recusa, sempre de protesto, sempre exaltantes) poderiam ser integradas na grande voz colectiva e aceites pelas minorias sem voz. O Ponto foi um jornal arrebatadamente jovem, truculento, vitalizante, diferente – sobretudo porque admitiu, compreendeu e defendeu o direito à diferença. O que muitos consideraram o seu erro fatal, a sua condenação à partida. O que nós havíamos premeditado como estandarte e cobiçado como emblema.

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