O Luiz
Pacheco acaba de publicar um livro a que chamou Exercícios de Estilo.
Reúne alguma
parte dos seus textos que andam para aí espalhados em folhetos e pedaços de
papel, o que só meia dúzia de felizardos consegue apanhar. Esses papeluchos que
o Pacheco faz de vez em quando para, como ele diz, dar p’ra bucha. Custam cinco
ou dez paus mas a gente dá sempre vintes porque é para o Pacheco. E, por favor
não chamem a isto piedade ou caridade.
Luiz José Machado, Gomes Guerreiro Pacheco,
nasceu em 7 de Maio de 1925 e espera morrer no ano 2000. Está bem disposto,
porque está desempregado. Publicou muitos livros de outros autores. Não se lembra
de publicar nada (dele) que prestasse. Escreveu muitas obras e perdeu quase
todas. Teve três mulheres, nove filhos e netos, nem conta. Folhetos de sua
autoria: Os Doutores, e o Menino e a Salvação, Carta Sincera a José Gomes
Ferreira, O Teodolito, Os Namorados, o Cachecol do Artista. Teve 18 valores na
admissão. O Urbano teve 12.
É altura de
muito boa gente inclinar-se sobre a prosa livre, louca e viva do Pacheco.
Tomarão contacto com um dos homens mais interessantes destes dias que aqui se
vivem.
Não sei nada. Duvido de tudo. Desci ao fundo
dos fundos, lá, onde se confunde a lama com o sangue, as fezes, o pus, o
vómito; fui às entranhas da Besta e não me arrependo. Nada sei do futuro, e o
passado quase esqueci.
O livro
custa setenta paus. O Pacheco também já vende caro. Mas esqueçam isso pois vale
bem a pena o dinheiro gasto. Temos andado todos a (fazer por) esquecer o
Pacheco. É altura de o descobrirmos (?) e ao seu humor louco e rebelde – isto de
adjectivos no Pacheco até parece heresia – para que daqui a uns anos não se ter
remorsos e raiva por ignorarmos este
tipo que é gente grande e dá pelo nome de Luiz Pacheco.
Mas Pacheco é principalmente, para muita
gente, um péssimo exemplo de se ser escritor!... escreveu Serafim Ferreira
A gente vê
no Pacheco aquilo que não pode ser: por vergonha, ou falta de coragem. Porque
há quem não goste do Pacheco. Não por aquilo que ele faz, ou pela maneira como
anda vestido, mas sim por aquilo que ele representa.
Perdi os meus livros todos! Perdi muito
tempo já. Se querem saber tudo, perdi a honra. Roubei. Sou o que se chama, na
mais profunda baixeza da palavra um desgraçado. Sou, e sei que sou.
Mas alto lá! Sou um tipo livre, intensamente
livre até ser libertino (que é uma forma real e corporal de liberdade, livre
até à abjecção, que é o resultado de querer ser livre em português.
Pacheco
está, agora, repleto de malandrice, a espreitar-nos das montras das livrarias.
É proibido
não o ler!
(12 de
Agosto de 1971)
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