No Interior da Tua Ausência
Baptista-Bastos
ASA Editores,
Porto, Novembro de 2002
Ainda não há muito gostava de ver o rio. Seguia com o
olhar o manso tremular, contava as ondas que se monteavam, ligavam, desfaziam e
reapareciam noutras ondas, como ressurreições obstinadas e espantosas, e era o
mesmo rio, a mesma água que corria para o mar, e o mar era a fuga do desterro
em que fenecia, sem revolta, sem se debater, com submissão. Porém, nunca ousara
sair por inércia, por ócio, por indiferença, mas também porque entendia,
cansado e triste, ser impossível fugir de si próprio. O local de onde se é anda
sempre atrás de nós, por muito que desejemos abolir o passado e anular
lembranças. E as grandes viagens começam por pequenos passos no interior de nós
mesmos.
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