sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

OLHAR AS CAPAS


Cartas de Inglaterra

Eça de Queiroz
Lello & Irmão Editores, Porto s/d

O Natal, a grande festa doméstica da Inglaterra, foi este ano triste – dessa tristeza particular que oferece, por um dia de calma ardente, a praça deserta de uma vila pobre, ou dessa melancolia que infundem umas poucas de cadeiras vazias em torno de um fogão apagado, numa sala a que se não voltará mais…
O que nos estragou o Natal, não foram decerto as preocupações políticas, apesar da negrura de borrasca, nem a situação da Irlanda, que já não é governada pela Inglaterra, mas pelo comité revolucionário da Liga Agrária – seriam inquietações suficientes para tirar o sabor tradicional ao “plum-pudding do Natal. As desgraças públicas nunca impedem que os cidadãos jantem com apetite; e misérias da pátria.
Não; o que estragou o Natal, foi simplesmente a falta de neve. Um Natal como este que passámos, com um sol de uma palidez de convalescente, um Natal sem neve, um Natal sem casacos de peles, parece tão insípido e tão desconsolado como seria em Portugal a noite de S. João, noite de fogueiras e descantes, se houvesse no chão três palmos de neve e caísse por cima o granizo até de madrugada! Um desapontamento nacional!

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