2 de Outubro de
1936
Finalmente, algo de positivo. Este horror ao ruído
público, este nojo pelos gestos mesquinhos dos outros, este remorso pelas
minhas hesitações e indignidade formais, são a prova de uma suficiência, de um
senso de compostura que têm uma certa dignidade. Mesmo a minha busca de poesia
objectiva queria dizer isto.
Hoje, no entanto, estou desolado por haver sempre, até
agora, descurado a forma, as maneiras; por não ter criado um estilo de
comportamento, mas ter sempre agido ao acaso, fiando-me no meu gosto
desdenhoso e cometendo, assim, infinitas dissonâncias românticas.
Porque é que as mulheres têm, em geral, melhores
maneiras do que os homens? Porque se vêem obrigadas a esperar tudo apenas do
efeito formal que exercem, ao passo que os homens agem ou pensam.
É preciso tornarmo-nos mais mulher.
Cesare Pavese em O Ofício de Viver
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