Numa carta para
Sophia, datada de 12 de Julho de 1964, Jorge de Sena continua a manifestar a
sua falta de tempo para escrever aos amigos e felicita Sophia pela atribuição
do Grande Prémio de Poesia ao Livro Sexto.
… E também para felicitá-la pelo prémio de poesia, que
Você me arrebatou… (É uma maneira de dizer, porque aquele júri com alguns
comunistóides jamais me premiaria, porque me recusei terminantemente, há muito,
nas manobras internacionais «deles», a ser rentável). Eu não esperava ganhar;
mas agente sempre acredita em em milagres, por mais céptico que seja. E o meu
livro, pelo menos ao que alguns me dizem e eu penso, é uma espécie de milagre.
E, a não ganhar eu, desejava ardentemente que ganhasse a Sophia que eu estimo e
considero, e não alguns que fazem os versos que eu desdenhei de fazer. Foi isso
mesmo o que aconteceu. Para falar francamente, Sophia, eu não acredito que
esses sujeitos a admirem sinceramente, e a tenham premiado (uns dois deles,
pelo menos) com honesta consciência. Essa gente apenas faz com os vivos, ou
tenta fazer, o que tem passado a vida a fazer com os AQUILINOS mais ou menos
moribundos. Mas que, neste caso, tenha havido coincidência num nome que é dos
maiores da poesia portuguesa contemporânea, eis o que pode considerar-se uma
justiça que eles praticaram por coincidência. Isto não significa que eu me
tenha convertido ao anti-comunismo de indústria; mas que cheguei à conclusão
que nada se pode esperara deles, porque lhes falta o mínimo de ética, para
lidarem com pessoas decentes. Sempre os achei assim: mas, às vezes as
conveniências forçam uma certa honestidade… e já lhes passou a oportunidade,
ou, melhor dizendo, esse oportunismo. Deixemos isso. Mas quero que saiba a que
ponto me alegrou que o prémio tenha sido seu.
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