Carta de Jorge
de Sena, datada de 9 de Janeiro de 1968 para Sophia de Mello Breyner Andresen,
e em que lhe transmite os sentimentos pelas mortes da mãe e do irmão:
… a morte súbita de seu irmão me chocou; a de Sua Mãe,
como me conta, foi apesar de tudo uma coisa diferente, se a morte é diferente
de si mesma alguma vez. A impressão que cada vez mais tenho é a de que, de
certa altura em diante, na vida, nós começamos a viver como o Rilke diria que
os anjos se sentiam: sem saber se estamos entre vivos ou entre mortos, porque
as pessoas desaparecem, transformam-se em memória, e a gente vai ficando numa
cada vez mais estranha irrealidade em que a maioria dos vivos não faz parte do
nosso mundo que atravessam como espectros secundários, enquanto o espaço vazio
se acumula de espectros autênticos que precisamente são os que deixaram de
existir.
Em Correspondência
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