sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

AS PESSOAS DESAPARECEM


Carta de Jorge de Sena, datada de 9 de Janeiro de 1968 para Sophia de Mello Breyner Andresen, e em que lhe transmite os sentimentos pelas mortes da mãe e do irmão:

… a morte súbita de seu irmão me chocou; a de Sua Mãe, como me conta, foi apesar de tudo uma coisa diferente, se a morte é diferente de si mesma alguma vez. A impressão que cada vez mais tenho é a de que, de certa altura em diante, na vida, nós começamos a viver como o Rilke diria que os anjos se sentiam: sem saber se estamos entre vivos ou entre mortos, porque as pessoas desaparecem, transformam-se em memória, e a gente vai ficando numa cada vez mais estranha irrealidade em que a maioria dos vivos não faz parte do nosso mundo que atravessam como espectros secundários, enquanto o espaço vazio se acumula de espectros autênticos que precisamente são os que deixaram de existir.

Em Correspondência

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