sábado, 23 de dezembro de 2017

POSTAIS SEM SELO


Não quero deixar de o saudar nesta quadra do Natal em que, em plena festa, a sua solidão lhe deve parecer mais dura do que em qualquer outro momento. Se assim for, regozije-se. Ora pense: que seria uma solidão que não fosse uma grande solidão? A solidão é una e, por essência, grande, pesada e difícil de suportar. Quase todos conhecem horas que trocariam de boa vontade pela mais banal e medíocre das convivências, pela aparência do menor acordo com qualquer ser, por mais indigno. Mas talvez essas horas sejam precisamente aquelas em que a solidão se amplifica – e o seu crescimento é dolorosos como a ante Primavera. Mas não se importe. Uma só coisa é necessária: a solidão, a grande solidão interior. Caminhar em si próprio e, durante horas, não encontrar ninguém – é a isso que é preciso chegar. Estar só – como a criança está só quando as pessoas crescidas se agitam, ocupadas com coisas que lhe parecem grandes e importantes pelo simples facto de preocuparem os adultos e ela nada compreender do que estes fazem.

Rainer Maria Rilke em Cartas a um Poeta

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

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