O Som e a Fúria
William Faulkner
Prefácio: Rui
Vieira Nery
Tradução: Ana
Maria Chaves
Capa: Rui
Garrido
Colecção
Essencial nº 19
Leya/RTP,
Lisboa, Outubro de 2017
Ela então quis pagar-me uma cerveja, mas eu não
deixei. – Guarda o dinheiro – digo eu – Compra um vestido com ele. – Dei também
cinco dólares à criada. Afinal, como eu digo sempre, o dinheiro não tem valor,
o que tem valor é a maneira como o gastamos. Não pertence a ninguém, para quê
poupá-lo. O dinheiro pertence àqueles que conseguem arranjá-lo e conservá-lo.
Há aqui um homem em Jefferson que fez uma fortuna a vender produtos estragados
aos pretos, e que vivia num quartinho, por cima do armazém, que mais parecia
uma pocilga e até era ele que cozinhava e tudo. Há cerca de quatro ou cinco
adoeceu gravemente. O susto foi tão grande que quando ficou bom entrou para uma
igreja e comprou um missionário chinês, cinco mil dólares por ano. Penso muitas
vezes na fúria que lhe vai dar quando morrer e descobrir que o céu não existe e
ele se lembrar dos cinco mil dólares por ano. É o que eu digo, o melhor era ter
morrido logo e assim poupava os cinco mil dólares.
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