sábado, 9 de dezembro de 2017

OLHAR AS CAPAS


O Som e a Fúria

William Faulkner
Prefácio: Rui Vieira Nery
Tradução: Ana Maria Chaves
Capa: Rui Garrido
Colecção Essencial nº 19
Leya/RTP, Lisboa, Outubro de 2017

Ela então quis pagar-me uma cerveja, mas eu não deixei. – Guarda o dinheiro – digo eu – Compra um vestido com ele. – Dei também cinco dólares à criada. Afinal, como eu digo sempre, o dinheiro não tem valor, o que tem valor é a maneira como o gastamos. Não pertence a ninguém, para quê poupá-lo. O dinheiro pertence àqueles que conseguem arranjá-lo e conservá-lo. Há aqui um homem em Jefferson que fez uma fortuna a vender produtos estragados aos pretos, e que vivia num quartinho, por cima do armazém, que mais parecia uma pocilga e até era ele que cozinhava e tudo. Há cerca de quatro ou cinco adoeceu gravemente. O susto foi tão grande que quando ficou bom entrou para uma igreja e comprou um missionário chinês, cinco mil dólares por ano. Penso muitas vezes na fúria que lhe vai dar quando morrer e descobrir que o céu não existe e ele se lembrar dos cinco mil dólares por ano. É o que eu digo, o melhor era ter morrido logo e assim poupava os cinco mil dólares.  

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