segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

OS DESMANDOS NAS ESCOLAS


Não há revoluções imaculadas.
Todas têm os seus erros e excessos.
Por exemplo, no meio estudantil, criando o embrião daquilo que, anos à frente, 1994, num editorial do Público, levaria Vicente Jorge Silva viria a classificar como  «Geração Rasca».
Rómulo de Carvalho, poeta António Gedeão incluído, era um Príncipe.
De modo algum poderia enfrentar os desmandos que invadiram as escolas.
São páginas que se lèem com um travo amargo.
Mas são história. A nossa história.
Das páginas em que Rómulo de Carvalho conta aos seus tetranetos os desmandos ocorridos, apenas publico o início.

Com as perturbações que a vida nacional sofreu após a revolução do 25 de Abril, com a apropriação de uma liberdade irresponsável que nunca soubemos nem saberemos, por temperamento, utilizar, imaginarão vocês o que se terá passado nas escolas, e no ensino em geral. O liceu em que eu trabalhava, o Pedro Nunes, serve de exemplo. A partir daquele imenso dia foi abolida, tacitamente, toda a autoridade. Nem professores nem pessoal auxiliar tinha voz fosse para o que fosse. O acesso ao edifício estava limitado a meia porta. Por essa metade aberta só entrava quem os alunos deixassem. Lá estavam uns tantos de guarda fiscalizando as entradas e as saídas sem saberem bem o que estavam a fazer nem com que finalidade. Quando lá quis entrar, após a revolução, os alunos vigilantes olharam-me, e um deles que tinha um pau na mão, tocou-me com a ponta do pau no ombro e disse: “Este pode entrar.”

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