Os que vão às ceifas já viram o comboio,
já embarcaram no comboio,
já viram mundo!
Já viram o comboio...!
Eles não contam a fome nas ceifas,
não dizem do sol esbraseando-lhes a
carne
pelas campinas nuas e lânguidas.
Eles não contam as saudades da mulher,
as saudades dos filhos,
as saudades do morno lar.
já viram o comboio,
já embarcaram no comboio,
já viram mundo!
Contam a pintura desse mundo.
Contam a pintura desse mundo.
Fernando Namora
de Terra em Novo Cancioneiro
Legenda:
fotografia de Amadeu Ferrari
2 comentários:
Fernando Namora-começo a pensar que Fernando Namora, tal como Ferreira de Castro, foi um escritor injustiçado.
Não sei se é de um escritor injustiçado que teremos de falar. Leitor dos primeiros romances de Namora, comecei a desiludir-me a partir de «O Homem Disfarçado», lido por volta de 1965. Em conversa com o meu pai lembro-me de ele dizer «o Namora começou a inventar literatura». Quando saiu, ainda li «Resposta a Matilde» mas não me convenceu.
Vergílio Ferreira e Fernando Namora foram grandes amigos e tiveram longas conversas. Se pegarmos na Conta-Corrente verificamos que ambos se sentiam marginalizados. Aconteceu depois aquele caso em que Luís Pacheco denunciou publicamente que Namora plagiara Vergílio Ferreira e Namora sempre entendeu que havia mão do amigo no caso.
Conta- Corrente, Vol. III
«O Namora publicou um livro novo. Não mo mandou. Pela primeira vez em muitos anos. Reflexos da malandrice que lhe pregou o Luiz Pacheco e de que me julga responsável, como Deus nos julgou por Adão gostar de fruta. Não sou.»
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